O modo como funciona o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) pode estar a atribuir casos de Covid-19 a mais à Região Autónoma da Madeira, defende o Diretor Regional da Saúde da região. “O que acontece, muitas vezes, é que existem pessoas que residem no Continente português, mas estão referenciadas como se residissem na Madeira e, quando isto acontece, o caso é automaticamente adicionado à Madeira”, afirma Herberto Jesus, explicando que o sistema identifica a residência fiscal e não o local onde as pessoas realmente vivem.
Recorde-se que, esta manhã, na reunião entre especialistas e membros do executivo, na sede do Infarmed, em Lisboa, Baltazar Nunes, epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), referiu que índice de transmissibilidade (Rt) da Covid “encontra-se abaixo de 1 em todas as regiões do continente e nos Açores, estando apenas na Madeira com um valor de 1,13, que indica uma fase de crescimento”. À VISÃO o INSA assegurou que os cálculos são feitos a partir dos dados fornecidos pela Direção Geral da Saúde (DGS).
Herberto Jesus considera que esta situação confere uma grande discrepância aos números, referindo que os que são apresentados no Boletim Epidemiológico da Secretaria Regional de Saúde e Proteção Civil da região são os correspondentes aos casos diagnosticados por teste RT-PCR no laboratório do serviço de saúde da Região Autónoma da Madeira. “Confiamos nos nossos números, porque o diagnóstico é feito cá”.
“A DGS, às vezes, afirma que temos duzentos e tal casos e nós temos oitenta”, exemplifica o Diretor Regional da Saúde. Algo que aconteceu no dia 3 de fevereiro quando, segundo a DGS, havia 264 novos casos de Covid-19 na Madeira e, segundo a Região Autónoma da Madeira, estes eram 90. “Nós nunca tivemos sequer 250 casos de Covid”, assegura o Diretor Clínico do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM), José Júlio Nóbrega.
A transmissão é local e identificada
Ainda assim, Herberto Jesus não deixa de referir que, desde o princípio do ano, foi sentida uma subida no número de novos casos registados na região. “Chegámos a ter um valor histórico de 160 novos casos, no dia 20, algo que nos preocupou um pouco, embora nunca tenha sido posto em causa o funcionamento hospitalar nem o número de camas de cuidados intensivos”.
Também José Júlio Nóbrega confirma que o início do ano foi pautado por um aumento, não só de infeções como de internamentos, com um pico de 70 doentes Covid internados entre a enfermaria e a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). Herberto Jesus justifica o aumento no número de novos casos com o período das festas de Natal e fim do Ano, mas assegura, “a transmissão é local, com cadeias identificadas”.
Após um final de janeiro com uma média diária de 120 novos casos registados pela Secretaria Regional de Saúde da RegiãoAutónoma da Madeira, o mês de fevereiro trouxe, segundo Herberto Jesus, “algum alívio” ao arquipélago, através de uma leve descida para médias em torno dos 90 novos casos diários.
“Temos estabelecido medidas mais restritivas, como o confinamento a partir das 18 horas, todos os dias, e um limite da mobilidade aos fins de semana”, refere Herberto Jesus, assegurando que, com 62 camas ocupadas das mais de 200 disponíveis, os cuidados hospitalares não estão em rotura e ainda têm capacidade de resposta. Mas avisa, “se o número de novos casos voltar a aproximar-se dos 160, o sistema de saúde poderá ser posto à prova e poderemos vir a ter uma grande pressão nos próximos tempos”.
Por agora, José Júlio Nóbrega defende que, apenas com seis doentes Covid internados em UCI, o SESARAM já recebeu três doentes Covid do Continente e “está disponível para receber mais”.
Os concelhos que mais preocupam a Direção Regional da Saúde da Madeira são o Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz, uma vez que “são os que têm maior densidade populacional, além de terem uma grande cultura de proximidade, o que faz com que haja mais transmissão”, conclui Herberto Jesus.