“A pandemia está descontrolada”. O aviso é de Carlos Antunes, um dos especialistas que analisa desde o início a evolução pandémica no País e que tem feito relatórios para os peritos que aconselham o Governo. No seu último documento, o matemático e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa garante que estamos na terceira vaga e que o cenário é muito preocupante. O seu último estudo, de dia 5 de janeiro, que já foi, aliás, entregue a um especialista que reúne regularmente com a ministra da Saúde, Marta Temido, dá conta da seriedade do problema: há um elevado aumento de casos, o crescimento de contágio é galopante, o vírus está disseminado por todas as regiões e estão a fazer-se menos testes .
“A pandemia está disseminada por Portugal”
“Se a taxa de contágio se mantiver assim dentro de 12 dias, estaremos com uma média de 12.800 casos. E dentro de 24 dias, com 25.600”, indica o especialista, sublinhando que a taxa média atual de crecimento de casos diários de covid-19 é de 6,2 por cento.
O especialista explica que, em Portugal, as estatísticas mostram que, neste momento, a duplicação de casos ocorre a cada 12 dias. Por isso, se o crescimento continuar ao nível da média atual, e não forem tomadas medidas que controlem o vírus, no final de Janeiro, em apenas dois dias haverá 50 mil infetados.
No entanto, Carlos Antunes garante que os valores atuais já estão a ameaçar a capacidade de resposta e a colocar o Serviço Nacional de Saúde em estado de rutura. Os dados que avaliou, e que dão conta de uma média de 6.400 casos, são de dia 5 de janeiro. Isto significa que para dia 17 janeiro (12 dias depois) prevê-se, pela sua análise, 12.800 casos. “E isso corresponde a 6 mil camas de internamento ocupadas, entre 800 a 900 doentes em Cuidados Intensivos e 180 mortes por dia”.
Números que o SNS não aguenta: basta ver que neste momento, segundo dados a que a VISÃO teve acesso, apenas há no total nacional 3.500 camas disponíveis no Pais. Ou seja, internamento Covid, e não Covid em diversos serviços.
Além dos casos diários, há outro valor que está a preocupar este e os restantes especialistas: o número de casos positivos encontramos na totalidade dos testes. “A taxa de positividade passou de 8,6% para 16,75”. E isto, avisa Carlos Antunes, revela que o “contágio está a ser galopante”. Segundo o investigador, esta taxa mostra que há uma maior percentagem de resultados positivos no totalidade dos testes realizados .
De 17 e 23 de dezembro foram feitos 289 mil testes e 20 mil deram positivo. Agora, janeiro nos 243 mil, o vírus foi detectado em 40 mil
Por outro lado, nota o investigador, estão a ser feitos menos testes. “A 23 de dezembro, e no que se referia aos últimos 7 dias, foram realizados 289 mil testes. Na análise feita a dia 5 de janeiro, referente aos 7 dias anteriores, verificou-se que foram feitos 243 mil testes”. E testar, considera o perito, é uma das formas mais eficazes de combater o virus.
E para ilustrar que em Portugal o contágio está numa velocidade galopante, Carlos Antunes, sublinha que se em dezembro, dos 289 mil testes, cerca de 20 mil deram positivo, agora, em janeiro, em 243 mil, o vírus foi detectado em 40 mil.
Outro indicador que está a alarmar as autoridades é o chamado Rt. Ou seja, o índice de transmissão (Rt) do vírus. Quando se encontra no 1 ou acima significa que o contágio está a crescer. “Neste momento, todos as regiões do País tem um Rt de pelo menos 1” Ou seja, “a pandemia está disseminada por Portugal” , alerta, defendendo que só com medidas mais restritivas será possível inverter esta situação.
Porém, o investigador acredita que o aumento do contágio, pode levar o “próprio hospedeiro a reagir”. Ou seja, esclarece, ao se tornar mais ativo, as pessoas ficam com medo e adotam medidas individuais para se protegerem e cortam nos contactos.
Quanto à nova variante, esta não parece ainda estar a ter impacto nos números. “Só quando a nova variante se tornar dominante sobre a outra é que a situação pode ser crítica”, diz, dando como exemplo o caso da Irlanda, onde a nova variante fez os números de casos crescerem 5 vezes em apenas 4 dias.