Nos últimos dias, de norte a sul, o risco de se ser infetado com o novo coronavírus aumentou de tal forma que todas as regiões estão com valores elevados de Rt, superiores a 1 – que mede a rapidez da transmissão do SARS-Cov2. Este valor, que indica a força do vírus no País, situa-se a nível nacional nos 1,19, o valor mais alto entre 27 países europeus, segundo um estudo que foi apresentado na reunião que na quarta-feira, 24, juntou especialistas e políticos na Autoridade Nacional do Medicamento – Infarmed. Quando o “Rt” se situa abaixo de 1, é sinal de que a propagação está a baixar; se estiver acima, indica que está a crescer (ou seja, cada doente contamina, em média, mais de uma pessoa). Este risco elevado de contágio foi um dos pontos mais debatidos naquele encontro,
Este valor de 1,19 foi definido por peritos da Universidade de Oxford, que compararam os vários valores de contágio na Europa. Apesar de o estudo ter sido debatido na reunião, as autoridades nacionais apresentaram valores diferentes, pois os especialistas da Escola Nacional de Saúde Pública, que fazem os cáclulos nacionais, usam uma outra metodologia, que indica que o valor do Rt no país é agora de 1,08. Seja como for, todas as regiões portuguesas estão neste momento com índices de contágio acima de 1, dando sinais de que propagação do vírus está a crescer.
O valor mais elevado situa-se agora no Algarve, onde o contágio entre 17 a 22 junho atingiu um Rt de 1,52. Uma situação que segundo a Direcção-geral de Saúde (DGS), está relacionada com a questão da festa ilegal de Lagos.
Também o Alentejo tem uma taxa de transmissão elevada: 1,47. Uma subida que estará relacionada com os surtos de Reguengos de Monsaraz, nomeadamente num lar de idosos. Os dados foram revelados pelas autoridades de saúde durante a reunião.
A subir está também o norte. Nesta região estão a surgir em média 50 casos por dia e este aumento acabou por fazer crescer o Rt, que desde abril estava abaixo do 1. Mas a 12 junho voltou a subir e neste momento o índice de contágio é de 1,13.
Já no centro, onde todos os dias há em média 20 novos casos (aumento de 1,3%,) o índice de contágio é de 1,08.
Mais baixo do que as outras regiões está o valor de contágio em Lisboa e Vale do Tejo, Esta é a que tem registado mais novos casos de Covid-19 – 275 a 325 casos por dia, o que equivale a um aumento de 1,5%, segundo dados apresentados pela Direcção-geral de Saúde. Quanto ao Rt, este está acima de 1 desde dia 29 de Abril, estando agora, entre 17 e 22 junho, nos 1,05.
Mas porque Lisboa tem mais casos e um Rt mais pequeno?
Os especialistas explicaram o fenómeno na reunião. Quanto mais novos casos existirem, mais lentamente sobe o Rt. Ou seja, quanto maior for a incidência mais difícil se torna que o Rt aumente. Um exemplo: na região Centro, passar de um índice de 1 para 2 significaria passar de 20 para 40 novos casos por dia. Em Lisboa, crescer de um Rt de 1 para 2 era passar de 300 casos por dia para 600.
Por isso, em vários concelhos da Região de Lisboa e Vale do Tejo, em especial nos que registam mais casos, o Rt até se encontra abaixo de 1. Neste momento, segundo dados apresentados pela DGS, Sintra regista um Rt de 0,977, Odivelas de 0,946, Lisboa de 0,928, Amadora de 0,845 e Loures de 0,834 Loures.
Foi desta forma que os especialista presentes na reunião acabaram por desmontar a tese de que o valor do Rt em Lisboa, por ser o mais baixo do País, pode ser um bom sinal. Segundo os peritos, isso não é verdade, pois garantem que para se analisar a situação tem de se juntar este valor de Rt a outros índices, como os novos casos diários, que são muitos em Lisboa e Vale do Tejo, o número de internamento, que tem subido consistentemente, e a quantidade de doentes em Cuidados Intensivos, que tem crescido.
