Esta tem sido uma das questões mais debatidas: quem teve Covid-19 fica imune? Segundo um estudo publicado esta semana na Nature Medicine, a resposta é sim, mas não durante muito tempo. Os anticorpos – gerados como resposta a uma infeção – podem, afinal, durar apenas dois a três meses. Sobretudo, em pessoas que nunca apresentaram sintomas enquanto estiveram infetadas.
A conclusão, sublinham, entretanto, vários especialistas citados pelo New York Times, não significa necessariamente que as pessoas sejam infetadas uma segunda vez. Mas deixam no ar que não devemos todos embarcar na ideia de conferir “certificados de imunidade” às pessoas que recuperaram da doença.
E porquê? Para já, pensa-se que os anticorpos para outros coronavírus, incluindo aqueles que causaram a SARS, em 2003, e o MERS, em 2012, durem cerca de um ano. Daí a expetativa de que os anticorpos para o novo vírus pudessem durar pelo menos tanto tempo.
Os estudos sobre pessoas visivelmente doentes já demonstraram que a maioria desenvolve anticorpos para este SARS CoV-2, embora ainda não seja claro o tempo que duram. Já neste estudo pioneiro, o que se pretendia era caracterizar a resposta do sistema imunitário em pessoas assintomáticas. E o que os cientistas descobriram foi que a sua resposta é mais fraca. Ou seja, os níveis de anticorpos caíram para níveis indetetáveis em 40% das pessoas assintomáticas. No caso de quem desenvolveu sintomas, essa percentagem cai para os 13 por cento.
A resposta do sistema imunitário
O que os cientistas acreditam é que os coronavírus, em regra, provocam uma reação do nosso sistema imunitário. Só que, como sublinha Angela Rasmussen, virologista da Universidade de Columbia, nos EUA, “a conversa concentra-se demasiado nos níveis de anticorpos.”
É que, além das células T, que combatem o vírus ao destruir as células infetadas, o sistema imunitário das pessoas doentes produz ainda as chamadas células B de memória, que podem aumentar rapidamente a produção de anticorpos quando necessário.
“O expectável é que, ao encontrarem o vírus novamente, se recordem e comecem a produzir anticorpos muito rapidamente”, acrescenta Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina Icahn, no Monte Sinai, que liderou vários estudos de anticorpos contra o coronavírus.
De facto, o que se observou neste novo estudo sobre a resposta imunitária dos assintomáticos, foi que os anticorpos para uma proteína viral caíram abaixo dos níveis detetáveis. Mas também que um segundo conjunto de anticorpos, encaminhados para a proteína do pico do coronavírus, ainda estava presente. E esse também é necessário para neutralizar o vírus e impedir a reinfeção.
A boa notícia? Estes revelam um declínio menor em pessoas assintomáticas do que em quem desenvolveu sintomas. Como sublinha ainda Kramm, “o anticorpo neutralizante é que importa. E isso pode fazer com que a história seja muito diferente”.
Nada que, ainda assim, descanse Akiko Iwasaki, imunologista viral da Universidade de Yale, nos EUA. “O que estes dados destacam é a necessidade de desenvolver uma vacina eficaz, porque a imunidade que se desenvolve naturalmente durante a infeção tem vida curta na maioria das pessoas.” Como quem diz, não podemos ficar à espera da infeção natural para alcançar a imunidade de grupo.