Vários estudos têm demonstrado uma correlação entre a obesidade e as consequências do coronavírus. Um dos mais recentes vem de um grupo de cientistas da Universidade de Glasgow, que chegou à conclusão que ser-se obeso duplica o risco de internamento hospitalar, devido a sintomas graves do vírus.
A razão para os problemas de saúde é simples: quanto mais excesso de peso um paciente tiver, mais gordura estará a carregar, e portanto estará menos apto e saudável, tendo ainda uma menor capacidade pulmonar; isto significa que tem de fazer um maior esforço para obter oxigénio no sangue, afetando o coração e o fluxo sanguíneo.
“Como as pessoas estão com sobrepeso, precisam de mais oxigénio. Isto significa que o sistema está a receber uma pressão maior do que o normal”, diz Naveed Sattar, da Universidade de Glasgow, alertando que esta situação, com a agravante de estar infetado com o vírus, condiciona o estado clínico do paciente, aumentado a probabilidade de precisar de assistência respiratória.
Nesta nova análise foram recolhidos dados de 428 225 pessoas e os investigadores calcularam que, por cada aumento de quatro unidades e meia no Índice de Massa Corporal [IMC], o risco de morte pela Covid-19 aumentava cerca de 25%.
“Claramente acreditamos que, pelo que temos visto, o IMC contribui para o panorama geral”, disse Paul Welsh, professor do Instituto de Ciências Cardiovasculares e Ciências Médicas da Universidade de Glasgow, ao The Times.
Welsh explica também que este estudo é um complemento de outros: “Os estudos anteriores focaram-se nos pacientes que estão no hospital, quem precisa de ventilação e quem morreu. E nós analisámos, em vários estudos diferentes, que os pacientes obesos tendem a progredir de uma maneira pior”. E, diz, “as pessoas com obesidade são mais propensas a acabar no hospital com Covid”.
O secretário da Saúde britânico (equivalente a ministro da Saúde), Matt Hancock, sugerira já que “o perfil etário e fatores como a obesidade” podem ajudar a perceber por que é que o Reino Unido tem o maior número de mortes na Europa.
Recorde-se que Boris Johnson esteve internado com graves sintomas de Covid-19 o que levou o cardiologista Assem Malhotra a declarar que o primeiro-ministro estava “significativamente acima do peso” ideal, sublinhando que “condiz com as evidências”.
Num outro estudo, a apontar na mesma direção, publicado a semana passada pela Universidade de Liverpool, os investigadores constataram que, em 17 mil casos de internamento analisados, as taxas de mortalidade foram 37% mais altas entre os obesos.
“Estes estudos mostram que, quando se está no hospital, ser obeso é um fator de risco adicional para ser admitido numa Unidade de Cuidados Intensivos ou morrer”, disse Dame Angela McLean, consultora científica chefe do ministério da Defesa britânico, no início desta semana.