O potencial contagioso de infeções que não foram registadas é importante para se poder perceber como o novo coronavírus se transformou rapidamente numa pandemia.
Um estudo publicado, no dia 16, na revista Science, feito por investigadores de várias universidades e apoiado pelo National Institutes of Health, a agência federal de investigação científica dos EUA que inclui 27 centros, partiu, assim, da observação do crescimentos de contágios na China, onde a epidemia começou, e acrescentou uma série de variáveis que têm a ver com a dinâmica da população e a sua mobilidade.
A conclusão é que, antes das restrições de viagens impostas pelas autoridades chinesas, a 23 de janeiro, 86% das infeções não foram registadas. Por pessoa, a taxa de contágio não registado oficialmente foi de 55%, além disso 79% das pessoas cuja doença foi documentada contraíram a doença através de outras que não estavam arroladas na lista de doentes.
Ou seja, os contágios não registadas, que os cientistas chamam de transmissão furtiva, contribuíram para a grande disseminação do vírus.
De acordo com os investigadores, os números explicam a propagação rápida e geográfica da Covid-19 e levam a crer que a contenção é particularmente difícil.
Para chegarem a estes resultados desenvolveram um modelo matemático que simulou a dinâmica espacio-temporal das infeções em 375 cidades da China e analisaram as infeções relatadas juntamente com os dados de mobilidade entre os dias 10 a 23 de janeiro e de 24 de janeiro a 8 de fevereiro (altura das festas do Novo Ano Lunar e quando milhões de chineses se deslocam às suas terras).
“A explosão de casos de Covid-19 na China foi causada, principalmente, por pessoas com sintomas leves, limitados ou inexistentes que não foram detetadas”, referiu, em comunicado, Jeffrey Shaman, professor na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.