Quando não se está feliz profissionalmente, a saúde também paga, tanto a mental como a física. O organismo reage a esse estado de desânimo e os sinais de alerta podem ser muitos. Em primeiro lugar, o excesso de horas de trabalho, um hábito muito vulgar dos portugueses, além de ser altamente desmotivante, tem consequências para a saúde.
“Não é preciso grandes estudos – embora eles existam aos magotes – para se perceber que este tipo de estratégia dá, a médio prazo, inevitavelmente maus resultados para a saúde dos trabalhadores”, lembrava, em outubro de 2018, a diretora da VISÃO, Mafalda Anjos. Depressão, ansiedade, hipertensão e problemas do sistema imunitário e do coração são alguns efeitos do excesso de horas de trabalho.
Jeffrey Pfeffer, professor de comportamento organizacional na Universidade Stanford, na Califórnia, e autor do livro Dying for a Paycheck (Morrer por um Salário), conta, nessa obra, vários casos de stress no trabalho que foi conhecendo durante a sua investigação. Um deles tem a ver com a morte de Kenji Hamada, um homem japonês de 42 anos, que trabalhava 75 horas por semana e, antes de morrer devido a um ataque cardíaco, trabalhou 40 dias seguidos sem folgas.
De acordo com as pesquisas do professor, 61% dos trabalhadores americanos consideram que o stress lhes causou problemas de saúde e 7% garantem que foram hospitalizados por motivos relacionados com trabalho. Só nos EUA, concluiu também Pfeffer, o stress laboral provoca todos os anos mais de 100 mil mortes.
Dores de cabeça, musculares e perda de apetite sexual
O stress é desmotivante e cria, realmente, sintomas fisiológicos, mas há muitos outros motivos para não se gostar de ir trabalhar e que provocam reações físicas no corpo. Dores de cabeça são uma delas: de acordo com a Associação Americana de Psicologia, os músculos contraem para proteger o corpo de lesões. Quando as pessoas vêem o trabalho como uma “zona de perigo”, os músculos ficam tensos e a tensão crónica no pescoço, nos ombros e na cabeça pode estar associada a enxaqueca e a cefaleias tensionais.
Quando o cérebro percebe alguma ameaça, “inunda” o corpo com adrenalina e outras hormonas relacionadas com o stress. Ao HuffPost, a psicóloga Monique Reynolds, do Center for Anxiety and Behavior Change, explica que “o nosso sistema nervoso está sempre no limite quando o trabalho é tóxico” e que “estamos o tempo todo preparados para reagir a um chefe ou um colega desagradáveis.” Por isso, quando se trabalha com os ombros tensos e a mandíbula apertada constantemente, esses sintomas podem significar que o trabalho está a afetar a saúde.
O cansaço extremo e constante também é um sinal importante de que se pode ter um emprego tóxico. E este tipo de exaustão não passa com uma noite bem dormida, já que é necessário contrariar o círculo vicioso do trabalho excessivo. O sistema imunológico pode ser, igualmente, afetado devido ao stress crónico, sendo que há pesquisas que indicam que o mesmo pode aumentar a susceptibilidade a certas doenças.
O stress também pode ter impacto no aparelho digestivo, provocando indigestão e obstipação, por exemplo. “Há mais ou menos seis meses comecei a perceber que todos os domingos à tarde sentia dor de estômago. Não foram os sintomas que me alertaram, mas sim quando eles apareciam, ou seja, precisamente quando pensava no que teria de fazer na segunda de manhã”, conta Kevin Kelloway, professor na Universidade de St. Mary, no Canadá, ao HuffPost. “Os sintomas desapareceram quando deixei aquele emprego”, continua.
O apetite também pode ser afetado, uma vez que, sob grande stress, a tendência é que as pessoas se foquem no que lhes está a provocar essa situação de ansiedade e não em comer. Contudo, caso o stress seja prolongado, pode haver mais libertação de cortisol no organismo, uma hormona que pode fazer com que a fome aumente. Por isso é que muitas pessoas sente, vontade de comer em situações de stress.
Além disso, quando não se gosta do que se faz, a vida pessoal também é afetada. Segundo a Associação Americana de Psicologia, há uma tendência para as mulheres terem menos desejo sexual quando se sentem stressadas no trabalho. Relativamente aos homens, o stress crónico pode levar a uma redução dos níveis de testosterona e, consequentemente, também à diminuição do apetite sexual. “É necessário haver um certo relaxamento para que haja desejo sexual. E existe a questão do tempo. Muita gente diz que não tem tempo para o sexo”, afirma Monique Reynolds.
A saúde mental também é prejudicada
Uma análise feita em 2012 de quase 300 estudos associou a perceção de injustiças no emprego com as queixas de saúde por parte dos funcionários. Segundo Kelloway, o sentimento de injustiça no trabalho é um fator que provoca muito stress já que “atinge uma parte fundamental dentro de nós”. “Se alguém for injusto comigo, está a por em causa a minha dignidade e a querer dizer que eu não mereço um tratamento mais justo”, explica ao HuffPost.