Nos últimos anos, a melhoria das técnicas de reprodução medicamente assistida permitiu aumentar a taxa de sucesso da fecundação in vitro – de 30 a 40%, há uma década, para 55% a 60%. Tudo graças a um conjunto de inovações que tem permitido selecionar com mais eficácia os embriões, mas também a novos conselhos associados à gravidez. Saiba mais.
Um novo paradigma
Apesar dos alertas dos especialistas e das campanhas de sensibilização sobre as vantagens de transferir apenas um embrião – e não dois como era comum há uns anos –, há muitos casais que continuam a acreditar que a transferência de mais do que um embrião aumenta a probabilidade de uma gravidez. Não é verdade, garante a médica Catarina Godinho, da clínica IVI. “Sabemos estatisticamente que transferir dois embriões não é sinónimo de se ter dois bebés saudáveis e que os riscos de uma gravidez gemelar são maiores.” Por estes motivos, as clínicas IVI têm incentivado os casais a transferir apenas um embrião. “Em 2015, em Lisboa, tínhamos uma taxa de gestação gemelar de cerca de 30%. Hoje está próxima de zero.”
Um embrião em vez de dois
Ao transferir dois embriões não estamos a aumentar a probabilidade global de uma gravidez. “Alguns estudos referem mesmo que a transferência de dois embriões pode diminuir a probabilidade de implantação individual de cada um deles”, esclarece a especialista em medicina reprodutiva. Mas não só. “Imaginemos que uma mulher tem uma condição no útero que ainda não foi detetada. Se transferirmos dois embriões, e ambos se perderem, estamos a desperdiçá-los.” Pelo contrário se utilizarmos um, e mediante o resultado implantarmos outro, a “probabilidade cumulativa de gravidez é exactamente a mesma”, com a salvaguarda de se ter ficado com um embrião.
Por que se deve evitar uma gravidez gemelar
“Uma gestação de gémeos acarreta mais riscos para a saúde. A mãe tem maior probabilidade de ter diabetes, hipertensão e de ter complicações durante e após o parto, entre outros problemas. Os bebés são frequentemente prematuros, o que pode implicar sequelas graves no seu desenvolvimento”, diz a médica, frisando assim é preferível transferir apenas um embrião. “Sabemos que uma em cada quatro gravidezes de gémeos corre mal.” E sublinha: “Claro que, na natureza, as gravidezes de gémeos são aceitáveis, mas se as conseguirmos evitar na sequência de um tratamento medicamente assistido é o ideal”.
Seleção dos embriões mais eficiente
Graças aos avanços da técnica, os especialistas hoje conseguem conhecer mais detalhadamente os embriões. “Somos cada vez mais seletivos. Temos assistido a um desenvolvimento das técnicas de cultura embrionária que aumentam a segurança do processo, e a uma melhoria das técnicas que permitem detetar embriões com desvios cromossómicos”, garante Catarina Godinho. Além disso, a criopreservação – cada vez mais eficiente – permite que os embriões mantenham as suas características durante mais tempo. “Um embrião crio-preservado hoje tem uma taxa de sobrevivência acima dos 98% e quando o descongelamos é como se fôssemos fazer uma transferência a fresco.”
Quando é mesmo preciso evitar uma gravidez múltipla
Existem algumas situações em que, por questões de saúde, é totalmente desaconselhada a implantação de mais do que um embrião. “Se o útero foi submetido a uma intervenção cirúrgica anterior (uma cesariana, um procedimento para retirar um mioma, entre outros), se há malformações no útero ou se a mulher sofre de uma doença crónica (hipertensão, por exemplo) deve evitar-se uma gravidez múltipla. “Depois dos 45 anos também não faz sentido, porque os riscos para a saúde da mulher são altíssimos.”