Desengane-se quem pensa que tudo o que se lê sobre saúde, mesmo de órgãos de comunicação conhecidos pela sua credibilidade na informação veiculada, é verdade.
Para o provar, a Health Feedback, uma rede online de cientistas de todo o mundo que avaliam a credibilidade da informação divulgada ao nível de saúde, examinou os 100 artigos de saúde mais populares de 2018, ou seja, os que provocaram mais reações e comentários, incluindo conteúdos do Daily Mail, da Time, do The Guardian, do Huffington Post e da CNN, por exemplo, órgãos conhecidos mundialmente.
Os pesquisadores analisaram os conteúdos associados a um destes três tópicos: doença e tratamento, alimentação e nutrição e vacinação, e perceberam que notícas falsas relativas a estes temas propagam-se, principalmente, no Facebook.
Foi nesta rede social que se fizeram 96% de todas as partilhas dos 100 conteúdos analisados, sendo que, no Twiter, a percentagem foi de apenas 1%.
O que acontece, dizem os cientistas, é que muitos dos redatores destes conteúdos distorceram vários dados ou não os interpretaram corretamente, o que fez com que grande parte da informação divulgada não fosse real.
Dos 10 artigos mais partilhados, os cientistas afirmam que três quartos são enganosos ou que, pelo menos, fornecem alguma informação falsa, sendo que apenas três foram considerados “altamente credíveis” (os três conteúdos da Time).
De acordo com os cientistas, alguns deles não contextualizam o assunto em questão e exacerbam não só as consequências para a saúde que os resultados revelaram, mas também os resultados do estudo, no geral.
Um dos conteúdos analisados foi um artigo sobre a depressão do jornal britânico The Guardian, publicado em de janeiro de 2018, com o título “Is everything you think you know about depression wrong?” (Será que tudo o que pensa que sabe sobre a depressão está errado?), que foi partilhado quase meio milhão de vezes, ficando em 12º lugar do top 100. Neste artigo, que inclui uma parte de um livro do autor Johann Hari, é sugerido que a maioria dos casos de depressão se deve à falta de sensação de realização pessoal e não a uma associação deste problema a um desequilíbrio em certas substâncias químicas no cérebro.
“O artigo tem vários problemas que tornam a sua credibilidade questionável”, lê-se, na revisão da Health Feedback. “Em primeiro lugar, nunca fornece links para fontes originais, onde há citações escritas por especialistas. E também não há links para os estudos que ele menciona que sustentem os resultados.”
Raymond Lam, professor de psiquiatria da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, diz que o artigo é escrito por um “leigo claramente antipsiquiátrico” que demonstra um ponto de vista desequilibrado e “cheio de exageros selvagens, simplificações e imprecisões”. O artigo foi, por isso, classificado como não credível e potencialmente prejudicial.
De todos os 100 conteúdos analisados, pouco mais de metade foi classificado como “altamente credível”. Contudo, os artigos mais bem classificados tiveram cerca de 11 milhões de partilhas, enquanto os mais mal avaliados foram partilhados 8,5 milhões de vezes.
A equipa acredita que estes conteúdos enganosos continuam a surgir para chamar a atenção dos leitores. “O público, no geral, tem maior probabilidade de entrar em contacto com informações falsas nas redes sociais do que com artigos fidedignos”, defende a equipa.
Isto porque, de acordo com os cientistas, são artigos como os que afirmam que o consumo de noodles está ligado ao desenvolvimento de Alzheimer ou que as cebolas podem ajudar a curar infeções nos ouvidos (classificados como não credíveis pela equipa) que provocam mais emoções e, posteriormente, reações no público.
Segundo uma pesquisa de 2018 publicada na revista científica Science, as notícias falsas espalham-se de forma mais rápida e profunda do que as verdadeiras em todas as categorias de informação.
O Facebook já agiu, excluindo, no início do ano, várias páginas dedicadas à medicina alternativa e holística.
A propagação de artigos duvidosos relacionados com saúde nas redes sociais levou a revista científica AMA Journal of Ethics a apelar aos médicos que esclarecessem todas as informações falsas com os pacientes, já que estes conteúdos podem representar riscos de saúde para as pessoas que não os corroborem com profissionais de saúde.