A gripe provoca sintomas bem familiares, como dores de garganta e de cabeça, febre e tosse, mas pode ter ainda consequências mais graves em pessoas com doenças crónicas como a asma, a diabetes, doenças hepática ou renais, obstrução pulmonar, HIV e anemias genéticas graves.
As pessoas mais velhas também são mais suscetíveis à infeção pelo vírus influenza devido ao enfraquecimento do sistema imunitário e, por isso, é importante saber-se o que acontece, realmente, no organismo que “luta” contra a gripe para se encontrarem formas eficazes de evitar os sintomas mais dolorosos.
Laura Haynes, investigadora e professora especialista em imunologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Connecticut, nos EUA, foca os seus estudos na descoberta da influência do vírus no corpo humano, assim como nas formas de o combater utilizadas pelo organismo.
À CNN, a pesquisadora explica que este vírus é transmitido, normalmente, por contacto direto com partes do corpo ou superfícies contaminadas, como as mãos, por exemplo. Também pode ser disseminado a partir de partículas de saliva de uma pessoa infetada, expelidas principalmente através da tosse e espirros.
Depois disso, o vírus percorre o trato respiratório e liga-se às células epiteliais do pulmão. Uma vez dentro das células, o vírus cria as suas próprias proteínas virais que, uma vez libertadas, podem invadir as células adjacentes.
Apesar de ser prejudicial para os pulmões, a verdade é que a maioria dos sintomas da gripe são provocados pela resposta imunitária a este vírus, diz Laura Haynes: a resposta inicial envolve células do sistema imune inato – um conjunto de formas de imunidade que nasce com o indivíduo -, que expressam recetores capazes de detetar a presença do vírus. São, então, produzidas pequenas moléculas semelhantes a hormonas, as citocinas e as quimiocinas, que alertam o organismo para a presença de uma infeção e que vão ajudar a combatê-la.
Um dos tipos de células que intervêm são os linfócitos T, um grupo de glóbulos brancos responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos e essenciais para curar a gripe. Quando estas células reconhecem especificamente as proteínas do vírus, começam a proliferar nos gânglios linfáticos à volta dos pulmões e da garganta, o que causa inchaço e dor nesses locais.
Dores de cabeça e musculares: Porquê?
O normal é que o vírus da gripe esteja, em condições normais, contido nos pulmões. Contudo, com o objetivo de combater a infeção, as citocinas e quimiocinas tornam-se sistémicas, isto é, entram na corrente sanguínea e contribuem para o aparecimento de sintomas sistémicos como dores de cabeça e dores musculares. A partir daí, acontece uma série de eventos biológicos que complicam ainda mais a doença.
A interleucina 1, um tipo de citocina, por exemplo, é ativada e, apesar de ser importante para o desenvolvimento da resposta das células T contra o vírus, também afeta a região do hipotálamo que regula a temperatura corporal, o que provoca dores de cabeça e febre, assim explica a investigadora.
Também um grupo de citocinas denominado fatores de necrose tumoral alfa é essencial no combate à gripe, tendo efeitos diretos antivirais nos pulmões. Contudo, também pode provocar febre, perda de apetite e fraqueza.
A partir de investigações com animais, Laura Haynes e a sua equipa deram conta de que a infeção pelo vírus influenza leva a um aumento na expressão dos genes que degradam os músculos, bem como a uma diminuição na expressão dos genes de construção muscular nos músculos esqueléticos das pernas.
“Investigadores no meu laboratório pensam que esse impacto da infeção por influenza nos músculos é outra consequência não intencional da resposta imunitária ao vírus”, explica a investigadora, que afirma estar a trabalhar no sentido de determinar que fatores específicos produzidos durante a resposta imunitária são responsáveis por estes sintomas, assim como formas de evitá-los.