Uma bebida que faz as células cancerígenas de tumores de alto grau brilharem quando iluminadas por uma luz fluorescente foi testada por uma equipa de cirurgiões britânicos e mostrou-se eficaz, permitindo aos médicos identificar e remover mais facilmente os tecidos doentes, minimizando a intervenção nos tecidos saudáveis.
As experiências foram feitas em pacientes com gliobastoma, o tipo mais comum e agressivo de tumor maligno cerebral, a quem foi pedido que ingerissem a substância química antes da cirurgia.
“O que isto significa é que pode ser removido mais tumor, com maior segurança e menos complicações”, explica Colin Watts, o neurocirurgião que liderou a investigação, apresentada na conferência do Instituto Nacional britânico para a Investigação do Cancro, que está a decorrer em Glasgow.
O marcador iluminou as células cerebrais tumorais de 85 dos 99 pacientes operados, com os resultados dos exames a mostrarem, posteriormente, que, destes, 81 tinham tumores de alto grau. Nos 14 em que os cirurgiões não viram qualquer fluorescência, apenas sete tumores puderem ser analisados e em todos estes casos confirmou-se um cancro de baixo grau.
O tratamento do gliobastoma passa, na maioria das vezes, por uma cirurgia para remoção da maior quantidade possível de tecido cancerígeno, mas, sobretudo nos tumores mais agressivos, é difícil a identificação de todas as células tumorais (o que é necessário para evitar o regresso da doença) e, ao mesmo tempo, evitar mexer nas saudáveis.
Atualmente, conforme explica Kathreena Kurian, da Universidade de Bristol, que fez parte da investigação, o tumor, uma vez removido, segue para o patologista, que analisa as células ao microscópio para determinar se são células de alto ou baixo grau, o que, por sua vez, ajuda o médico a determinar o tratamento que se segue, como radio ou quimioterapia. A identificação, logo no momento da operação, do tipo de células, pode também agilizar esse processo.
Para já, apenas foi testado o efeito do ácido 5-aminolevulínico e não os efeitos da sua utilização na sobrevivência dos pacientes pós-cirurgia.
Também falta, alertam os investigadores, encontrar outros marcadores capazes de detetar células de gliomas de baixo grau.
Investigações anteriores já tinham mostrado que o 5-ALA se acumula nas células cancerígenas de rápido crescimento porque lhes falta a enzima necessária para decompor o ácido.