Crianças concebidas através de várias formas de reprodução medicamente assistida são mais propensas a sofrer de doenças cardiovasculares, com efeitos na saúde ao longo da vida. O grupo de investigadores do Hospital Universitário de Berna, com o estudo publicado no Journal of American College of Cardiology, encontrou o que acredita ser a primeira evidência de que a fertilização in vitro tem um impacto, a longo prazo, em adolescentes, tornando-os seis vezes mais propensos a ter pressão arterial alta do que outros jovens concebidos naturalmente.
O estudo avaliou 97 jovens saudáveis, com uma idade média de 16 anos, dos quais 54 nasceram através de fertilização in vitro. As conclusões alertam para que um em cada sete adolescentes nascidos através da reprodução medicamente assistida apresentam tensão alta, em comparação com apenas 2,3% dos outros. O estudo é pequeno, feito com cerca de uma centena de pessoas, mas as suas descobertas justificam mais testes em larga escala para determinar se os riscos são resultado de técnicas ou características da fertilização in vitro encontradas em casais que necessitam de reprodução assistida.
O armazenamento e a manipulação de óvulos, espermatozoides e embriões poderá ser a causa do aumento dos riscos de doenças em estudos com ratos e ser agora uma realidade em humanos. Os especialistas acreditam que fatores que levam à infertilidade dos pais (como condições de saúde pré-existentes) e traços de estilo de vida também determinam algumas dessas diferenças. Os vasos sanguíneos e as anomalias cardíacas eram mais comuns em ratinhos nascidos por fertilização in vitro.
“Há evidências crescentes de que as técnicas de reprodução artificial alteram os vasos sanguíneos em crianças, mas as consequências a longo prazo não eram conhecidas”, esclarece Emrush Rexhaj, principal autor do estudo, ao The Independent.
A investigação monitorizou a tensão dos jovens durante 24 horas, além de outros parâmetros como a rigidez dos vasos sanguíneos, o índice de massa corporal ou os hábitos tabágicos.
Para Alastair Sutcliffe, professor de pediatria na University College London, à frente de um outro estudo sobre os impactos a longo prazo da fertilização in vitro, com dados de 77 mil pacientes na Inglaterra e no País de Gales, todos os estudos feitos até agora foram pequenos demais para separar os riscos do impacto dos fatores do estilo de vida.
A necessidade de dar continuidade a testes mais aprofundados deve-se ao facto de os primeiros bebés-proveta estarem agora a chegar à meia-idade. Em julho, Louise Brown, a primeira criança nascida através da fertilização in vitro, celebrou 40 anos – é uma das seis milhões de pessoas que foram concebidas com técnicas de reprodução artificial em todo o mundo.