Que fazer surf é terapêutico a vários níveis, já se sabia. O que um estudo financiado pela Marinha dos EUA quer descobrir é o potencial desta atividade como terapia contra perturbações mentais, como a depressão, privação do sono e até o stress pós-traumático
“Uma terapia disfarçada de lazer”. É assim que Helen Metzger, responsável pelo departamento de saúde e bem-estar do Centro Médico Naval de San Diego descreve, em declarações ao Washington Post, o uso do surf no tratatamento do stress pós-traumático.
Os investigadores acreditam que a praia poder tornar-se um espaço de partilha de experiências, como alternativa à terapia de grupo convencional, repudiada por alguns militares.
“Falam sobre surf, mas a conversa segue para temas mais profundos: experiências e traumas comuns”, acredita Helen Metzger.
O surf assume também com uma ferramenta essencial no exercício de recuperação do “tipo de vida que tinham antes do trauma”, explica James LaMar II, médico no mesmo hospital militar e voluntário num programa de surf criado pela unidade em 2008, com o objetivo de proporcionar o fortalecimento do corpo e o equílibrio, aliado ao sentimento de bem-estar e à integração na comunidade daqueles que, em combate, ficaram com mazelas, físicas e mentais.
Os resultados preliminares do estudo, que começou no ano passado e vai prolongar-se por três anos, mostram que o surf pode levar a um decréscimo na incidência de insónias e episódios de ansiedade. Mas não só – também os sintomas associados a um estado depressivo assumiram uma trajetória regressiva.
A ideia é acompanhar os participantes a vários níveis, incluindo os padrões de sono.
Entre 2001 e 2011, foram contabilizados nos EUA mais de 930 mil casos de distúrbios do foro psicológico, segundo dados do Congressional Research Service. Deste total, cerca de 104 mil casos, correspondiam a casos de stress pós-traumático.
Embora haja consenso em relação aos benefícios do surf, a Marinha quer comprová-los cientificamente para mostrar que esta prática é mais que uma atividade lúdica. “Todos nós sabemos que é bom, conseguimos ver isso. Mas precisamos da ciência para convencer os administradores”, refere o capitão Eric Stedje-Larsen, especialista em gestão da dor e colaborador no programa de surf do hospital.
“O surf é uma grande terapia para os mais novos e para homens mais velhos como eu”, concorda John Toolan, antigo tenente-general do exército americano, que comandou tropas no Iraque e no Afeganistão.
Em casos mais extremos, como o de Nick Horin, primeiro-sargento e veterano de guerra no Iraque, o surf é a única terapia capaz de lidar de forma eficaz com o stress provocado pela guerra. “Tinha muita raiva depois do Iraque, queria magoar pessoas. O surf é a única forma de tirar partido da minha raiva sem recorrer ao álcool e drogas”, confessou.