O som do piano ressoa no chão de madeira e os espelhos amplificam os movimentos das duas dezenas de mulheres que se esforçam por manter o equilíbrio, apoiadas nas pontas dos pés. Com as mãos poisadas na barra, sobem e descem, ao ritmo suave da música e… transpiram.
A aula de full barre – em que a barra de ballet é a base de trabalho – é das mais difíceis de todas as que Mafalda Sá da Bandeira dá na escola de dança Jazzy (Santos), em Lisboa. Mas ninguém se queixa. Pelo menos não em voz alta. É que a professora não deixa grande margem para lamentos. “Sou uma generala”, admite. Exigência, disciplina, persistência. Um lema que traz de anos e anos de ballet.
Não é por acaso que nas suas aulas se encontrem tantas ex-bailarinas. É o caso de Isabel Palha, 58 anos, que viaja mais de cem quilómetros para fazer uma hora de exercício. A morar em Azeitão, a professora de Biologia tem ginásios mais perto de casa. Mas, diz, “não se compara”. Isabel estudou dez anos de ballet na Gulbenkian e frequentou a Escola Superior de Dança. Foi sempre tentando conciliar a vida de professora com a prática de exercício. Mas só se sentiu verdadeiramente satisfeita quando conheceu estas aulas, e toda a filosofia e postura de vida transmitidas pela professora (apresentadas no mês passado no livro O Método da Mafalda, 180 págs., €18,90, Ed. Esfera dos Livros). Barra no chão, em que se trabalha sobretudo a flexibilidade, é a sua aula preferida.
Mariana França, 42 anos, também estudou ballet clássico e aprecia o rigor e a atenção à postura. Além da escolha musical. É uma das muitas alunas fiéis. Tonificar, alongar, afinar a postura, todos estes verbos acabam por traduzir-se em corpos graciosos. “Ao fim de um ano a seguir as aulas da Mafalda recuperei a minha flexibilidade”, alegra-se. Além de um corpo trabalhado, Mariana transporta para a sua vida do dia a dia a energia, a concentração e os restantes cinco princípios que estão na base das aulas, e do sucesso, de Mafalda Sá da Bandeira: concentração, respiração, consciência, força, postura, flexibilidade e energia.
“Made in USA”
Misturar ioga, pilates e ballet numa só modalidade é uma das novas modas da prática desportiva, sobretudo em espaços em que o público é exclusivamente feminino. “Quase todas as mulheres em criança sonharam ser bailarinas”, nota Ricardo Ribeiro, diretor técnico da cadeia de ginásios Vivafit. Na modalidade Sbarre, exclusiva da marca, a barra de ballet e algumas das suas posições são a base de todos os exercícios, que prometem reforço da tonificação e melhoria na postura.
Este tipo de aulas foi desenvolvido em Portugal depois de a CEO do grupo, que é de origem americana, se ter apercebido desta tendência, de usar a barra do ballet em aulas de fitness, nos Estados Unidos da América. No Brasil, a moda espalhou-se sobretudo através do entusiasmo das atrizes das novelas. Sofia Simões, professora de ballet clássico e licenciada em dança, percebeu rapidamente que esta era uma nova tendência e voou até Brasil, para receber formação. “Nestas aulas mistura-se o melhor de dois mundos, aparentemente tão diferentes: o ballet e o fitness”, nota a professora no Clube VII, em Lisboa.
Adaptou o que aprendeu à realidade portuguesa e criou o seu próprio tipo de aulas, recorrendo a diferentes apoios com a barra de ballet e dando uma especial atenção à coluna. “O ballet fitness é uma aula perfeita para sentir o corpo a tonificar de forma rápida. O corpo fica mais alongado, com aparência de bailarina”, diz Sofia Simões.
Apesar disso, não teve vida fácil nas primeiras tentativas de lançar este tipo de aulas nos ginásios portugueses. Hoje, conta, “há cada vez mais público de ginásios à procura de aulas de dança.” Às de ballet fitness tanto chegam mulheres com experiência em ballet como alunas que tocam pela primeira vez numa barra.
Através da cadeia Vivafit, este género de modalidade espalhou-se pelos quatro cantos do mundo. “As mulheres aderem, com cada vez mais satisfação.” Nas aulas, ouve-se tanto música clássica como ritmos latinos. O importante é que a boa disposição esteja garantida. “Sentem que estão a fazer ballet”, nota Ricardo Ribeiro. E concretizam o seu sonho de meninas.
Onde praticar
Jazzy, Santos, Lisboa – Full Barre e Body Technic. Aulas de que têm como base algumas posições do ballet.
Cadeia de ginásios Vivafit – Sbarre. Aulas desenvolvidas pela cadeia de ginásios em que os movimentos básicos vêm do ballet. Resultados ao nível da tonificação e da postura.
Clube VII, Lisboa – Ballet fitness. Definição muscular com base no peso do próprio corpo, com treino de força, flexibilidade e equilíbrio.
APAM, Porto – Ballet work-out. Exercícios na barra, onde os princípios do ballet são combinados com atividades de treino de força e cardio trabalhando os principais grupos musculares. Influência de ballet e fitness.