Sem educação, sem meios termos, na maioria das vezes sem dar a cara, os “trolls” online parecem sempre prontos a atacar. Ainda que se justifique, de uma forma simplista, que a Internet simplesmente traz ao de cima o pior que há nas pessoas, um grupo de investigadores australianos propôs-se descobrir o que faz alguém saltar para este comportamento extremo de magoar ou, pelo menos, ofender, propositadamente os outros.
O estudo, da Escola de Ciências da Saúde e Psicologia da Universidade de Mount Helen, analisou 415 homens e mulheres para perceber que traços de personalidade em pessoas “normais” os tornava mais suscetíveis a adotar este tipo de comportamento. Através de um questionário, os investigadores testaram vários traços de personalidade e analisaram comportamentos online para avaliar a propensão para se tornarem “trolls”. Um dos pontos, foi, por exemplo, concordar ou discordar da frase: “Apesar de algumas pessoas considerarem os meus posts/comentários ofensivos, eu acho que são engraçados.”
Na mira dos investigadores estavam traços particulares de personalidade ligados às capacidades sociais, psicopatia, sadismo e dois tipos de empatia: a afetiva e a cognitiva – a primeira permite a alguém experienciar, interiorizar e responder às emoções dos outros, enquanto a segunda se limita a compreender as emoções dos outros. Os “trolls” que participaram no estudo tiveram uma pontuação mais alta do que a média em dois traços específicos: psicopatia e empatia cognitiva, levando os investigadores a acreditar que é a união destas duas características que leva a este tipo de comportamento online.
“Os resultados indicam que quando têm um nível alto de psicopatia, os trolls empregam uma estratégia empática de prever e reconhecer o sofrimento emocional das suas vítimas, enquanto se abstêm da experiência dessas emoções negativas”, lê-se no resumo do estudo.
Os investigadores acrescentam que como a psicopatia está associada à impulsividade e à busca de emoções fortes, é possível que a motivação dos “trolls” seja, simplesmente, a de “criar o caos online”.
As conclusões deste estudo são semelhantes às de outra investigação, de 2014, realizada no Canadá, que analisou mais de 1200 pessoas com recurso a testes de personalidade e concluiu que “a associação entre o sadismo e pontuações elevadas quanto ao comportamento “troll” na Internet é tão forte que pode dizer-se que os trolls online são os protótipos dos sádicos quotidianos”.