Se passa demasiadas horas na posição sentada diante de um monitor e a palavra “agachar” não entra no seu vocabulário, até por ser coisa de aficionados do ginásio, esta informação é para si. Uma investigação publicada no European Journal of Preventive Cardiology estabeleceu uma relação direta entre a esperança de vida de uma pessoa e a capacidade de se erguer, usando apenas a força das pernas, a partir de uma posição de agachamento completo. Quem o consegue fazer tem uma probabilidade de viver mais três anos do que quem não o consegue.
Neste estudo que envolveu 2002 adultos entre os 51 e os 80 anos, verificou-se, mais de seis anos depois dos primeiros testes, que a “condição física músculo-esquelética”, traduzida na maior ou menor facilidade (ou total incapacidade) com que se levantaram após um agachamento completo, foi um “indicador significativo de mortalidade” entre as 159 pessoas que morreram nesse intervalo de tempo.
Estas conclusões reforçam a ideia de que agachar, embora socialmente visto como algo primitivo (porque, na verdade, o é), mantém o corpo saudável. Vários defensores deste movimento tão primário como andar, saltar, puxar ou empurrar, e que praticamente desapareceu do dia a dia no Ocidente mas é prática corrente no ioga, por exemplo, alegam que, além de fortalecer os músculos dos membros inferiores, é fundamental para manter as articulações intactas.
“Não consigo pensar num método mais efetivo e eficiente de mover e ativar a anca, o joelho e o tornozelo”, considera Bahram Jam, conceituado fisioterapeuta canadiano que fundou o Instituto Educacional de Terapia Física Avançada. Uma vez que, na sociedade atual, a maioria das pessoas passa muito tempo sentada (no trabalho, em casa, no carro…), é raro estas articulações serem solicitadas a esforços que as obriguem a dobrar para além dos 90 graus, o que tem consequências negativas. Isto porque as articulações produzem um líquido – o líquido sinovial – através do movimento e da compressão das mesmas, e sem esse líquido as cartilagens começam a degenerar. Para melhor compreensão, basta imaginar a dobradiça de uma porta sem óleo. “Se as articulações não dobram ao máximo do que podem dobrar, se as ancas e os joelhos não passam dos 90 graus, o corpo diz ‘não está a ser usada”, pára a produção do líquido sinovial e a articulação começa a degenerar”, sustenta Bahram Jam.
Se os nossos antepassados tinham por hábito passar muito tempo agachados (ainda acontece em vários países da Ásia ou em tribos africanas), hoje a maioria da população só adota essa posição nos primeiros anos de vida, ainda em idade de bebé. Isso prejudica também o funcionamento do aparelho digestivo e contribui para a obstipação (vulgo, prisão de ventre). De facto, a posição agachada foi durante muitos anos, até apareceram as casas de banho, a mais usada para as necessidades fisiológicas. E também para dar à luz era a posição preferida. Anatomicamente, é a mais adequada em ambos os casos.
Se Bahram Jam aconselha duas sessões de cinco a dez agachamentos por dia (com o movimento completo de ir acima e abaixo), Roger Frampton, treinador de fitness inglês, sugere, por outro lado, que o agachamento se torne uma prática diária de 10 minutos mas sem necessidade de uma pessoa se levantar. Ou seja, manter-se na posição agachada, durante esse período, será o suficiente para produzir os efeitos benéficos para a saúde.