As criptomoedas são um investimento cada vez mais popular, mas a sua produção tem impactos significativos – consome muita eletricidade. Por essa razão, o Kosovo proibiu a mineração de criptomoedas. O país enfrenta no momento a sua pior crise energética da última década devido a cortes de produção.
“Todas as agências de aplicação da lei irão travar a produção desta atividade, em cooperação com outras instituições relevantes que irão identificar os locais onde existe produção de criptomoeda”, disse a ministra da Economia e Energia, Artane Rizvanolli, num comunicado no Facebook.
Acrescentou ainda que as medidas serviam para fazer face à a escassez de energia a curto e longo prazo, de modo a proteger a economia do país.
A ‘mineração’ de criptomoedas é o processo através do qual novas criptomoedas são criadas e colocadas em circulação. É executada utilizando-se hardware sofisticado que resolve um problema matemático computacional extremamente complexo. O primeiro computador a encontrar a solução para o problema é premiado com o bloco seguinte de criptomoedas, e o processo recomeça. Um pouco como a corrida ao ouro na Califórnia, mas na era da Internet.
O processo é lento e dispendioso e não pode ser feito num simples computador portátil – mas antes através de ‘circuitos de mineração’, em que vários utilizadores em diversas localizações combinam os seus recursos computacionais em rede para reforçar a probabilidade de encontrar um bloco ou de outra forma de ‘mineração’ de moeda com sucesso.
No entanto, em regiões onde a electricidade é gerada através de combustíveis fósseis, a ‘extração’ de criptomoedas é altamente prejudicial ao ambiente, devido ao exorbitante gasto de energia necessário para estes processos, que provoca emissões de gases com efeito de estufa. Um estudo recente calculou que só uma criptomoeda, a Bitcoin, é responsável por 38 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano. É praticamente o mesmo que os 10 milhões de portugueses (as emissões totais de Portugal rondam os 40 milhões de toneladas).
Próximo passo: proibir na UE?
No Kosovo, os cortes de energia nas centrais elétricas alimentadas a carvão e os elevados preços de importação levaram as autoridades a introduzir, no mês passado, cortes de energia. Foi mesmo declarado o estado de emergência durante 60 dias, permitindo ao governo despender mais recursos com as importações de energia, introduzir mais cortes e medidas mais restritas.
A Reuters falou com um destes “mineiros”, localizado no Kosovo, que tem 40 unidades de processamento gráfico (um tipo de microprocessador especializado em processar gráficos em computadores pessoais) e que afirmou estar a pagar cerca de €170 por mês de eletricidade, mas em contrapartida está a receber cerca de €2 400 por mês em lucros com a ‘exploração mineira’. O país é cada vez mais procurado por ‘mineiros’ de criptomoedas devido aos baixos preços da eletricidade, o que torna a mineração muito mais lucrativa.
Atualmente, o Kosovo importa mais de 40% da energia consumida no país, especialmente durante o inverno, em que é necessária mais energia para aquecer as casas.
Cerca de 90% da produção de energia no Kosovo é feita a partir de lignite – um tipo de carvão, formado pela compressão de turfa. No entanto, é menos eficiente do que o carvão convencional, uma vez que tem um baixo poder calorífico. Além disso, é altamente poluente.
Números oficiais mostram que o Kosovo tem uma reserva de lignite situada entre os 12 e os 14 milhões de toneladas, a quinta maior do mundo.
Com esta proibição, o Kosovo junta-se a uma lista de países que já colocaram restrições à produção de criptomoedas. É o caso do Irão, que emitiu no ano passado proibições periódicas de ‘mineração’ de criptomoedas em resposta a uma série de apagões nas principais cidades do país.
Na Europa, também a Suécia alertou para os efeitos prejudiciais da ‘mineração’ de criptomoedas no ambiente, devido à quantidade de energia que esta atividade consome. Em novembro, o governo sueco apelou, numa carta aberta dirigida à União Europeia, a uma proibição no bloco europeu da extração de criptomoedas, que dizem ameaçar os objectivos de limitar o aquecimento global a 1,5°C ao abrigo do Acordo de Paris de 2015.