“Goodbye Oil”, lê-se na traseira dos dois Tesla Model 3 que levaram de Lisboa a Glasgow em seis dias Henrique Sánchez e Pedro Faria, da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos. A mensagem é clara e foi reforçada ao longo dos 3 524 quilómetros da viagem: é preciso acelerar a mudança para veículos elétricos e dizer adeus aos carros a combustíveis fósseis o quanto antes. “A situação é absolutamente dramática. A generalidade das pessoas não tem noção do caminho que a humanidade está a levar”, lamenta à VISÃO o presidente da UVE.
Já em Glasgow, Henrique Sánchez conta que foi entregue a um representante da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP26) “a declaração de uma aliança global de associações de utilizadores de veículos elétricos, a Global Electric Vehicles Alliance – GEVA”, assinada na sede da AVERE – Associação Europeia para a Mobilidade Elétrica, em Bruxelas. Nessa declaração “fazemos duas exigências: que a partir 2030 apenas possam ser vendidos veículos 100% elétricos e veículos híbridos plug-in e que a partir de 2035 só os veículos 100% elétricos possam ser vendidos”.
Henrique Sánchez não hesita em dizer que esta declaração “é a base da ida à COP26” e cujo objetivo é mostrar que é possível fazer a mudança a curto prazo. “Estamos fartos de palavras, estamos fartos de ouvir discursos, estamos fartos de conferências, esta vinda aqui [à COP26] também foi um bocadinho para pressionar, para dizer ‘meus caros amigos, isto pode ser feito já, isto pode ser feito agora’”, frisa.
A aposta na “informação” é o primeiro passo para a mudança, diz o presidente da UVE, deixando claro que “neste momento, a perceção que as pessoas têm é que não existem carros [elétricos] suficientes, que não têm uma autonomia que cubra as suas necessidades e que são excessivamente caros, além de não existir uma rede de carregamento pública, especialmente para aquelas pessoas que não podem carregar nas suas casas. Este é o quadro das quatro maiores interrogações que as pessoas têm e nenhuma delas, hoje em dia, corresponde à realidade”.
‘O humano é um animal de hábitos’
Embora reconheça que os carros elétricos não vão resolver todos os problemas atuais do impacto da mobilidade no ambiente, Henrique Sánchez diz que é urgente apostar também na eletrificação dos transportes públicos, incentivar o uso de bicicletas e trotinetas (algo também já reivindicado na COP26) e, ao mesmo tempo, desincentivar as viagens de avião para distâncias abaixo dos mil quilómetros.
Mas o presidente da UVE reforça que os veículos elétricos são a aposta mais acertada e promissora. “Existe uma enorme oferta. Em Portugal, temos hoje à venda 140 modelos de veículos 100% elétricos e híbridos plug-in, praticamente todas as marcas que estão representadas em Portugal têm uma oferta elétrica. Depois, a nível europeu, Portugal é o quarto país em termos de número de carregadores por 100 quilómetros de estrada. Ainda precisamos de mais e isto vai acelerar. Quanto mais as vendas acelerarem, mais a rede vai crescer, e não temos dúvidas nenhumas que vai crescer”, garante.
Sem grandes expectativas para a cimeira do clima que decorre até dia 12 de novembro, até porque, diz, “esta já é a 26.ª COP e não vemos grande evolução”, Henrique Sánchez diz, no entanto, que não há alternativa à mudança. “O humano é um animal de hábitos, tem dificuldade em mudar, mas é fundamental que as pessoas ganhem consciência de que têm de mudar. O carro elétrico é só uma das imensas coisas a que as pessoas podem, devem e têm de mudar, sob pena de ser tarde de mais e não haver futuro para os nossos filhos e nosso netos.”
Para fazer frente ao cenário atual, que se prevê catastrófico a longo prazo se nada for feito, a COP26 pretende mitigar o quanto antes o aquecimento, incentivando os países a apresentarem metas ambiciosas de redução de emissões para 2030, metas essas que se devem alinhar com o alcance de zero líquido em carbono até meados do século. Acelerar a mudança para veículos elétricos é um dos pontos deste primeiro objetivo da COP26, a mitigação das alterações climáticas.