As empresas de ridesharing vieram revolucionar o transporte urbano. Mas também fizeram aumentar o tráfego, o que pode ser uma má notícia para o ambiente e para a saúde, se a aposta continuar a ser em automóveis com motores a combustão.
Para minimizar o seu impacto, a Uber comprometeu-se fazer o caminho da descarbonização: daqui a menos de 20 anos, será uma empresa com zero emissões de gases com efeito de estufa, garante Manuel Pina, diretor-geral da Uber em Portugal, na conversa da VISÃO VERDE desta semana. “Queremos tornar as cidades onde vivemos menos poluídas. Em 2040, esperamos ser uma aplicação de mobilidade que contribui com 0% de emissões de CO2 em todas as cidades onde operarmos. Até 2035, esperamos que já aconteça em toda a Europa e nos EUA. E, no caso de Lisboa e outras cidades europeias, até 2025: esperamos que, daqui a quatro anos, 50% dos quilómetros percorridos através da Uber em Lisboa sejam em veículos elétricos.”
O representante da gigante do ridesharing lembra que as cidades portuguesas têm sido pioneiras na transição para carros elétricos. “O Uber Green foi lançado pela primeira vez [a nível mundial] em Lisboa e no Porto, em 2016.”
Há, no entanto, desafios que estão a dificultar a descarbonização. “Um carro particular tem uma utilização que ronda menos de 5% do tempo útil de vida; um veículo TVDE tem uma utilização próxima dos 95%. Esta diferença é fundamental para perceber as barreiras para um empresário, para um parceiro Uber. É importante fazer as contas e perceber o custo total de operar um carro elétrico em relação a um de combustíveis fósseis. Isso tem a ver com o tempo de carregamento: é tempo em que o motorista não está a fazer viagens, o que vai aumentar o seu custo operacional.”
O custo dos próprios carros é outro problema, aponta. “Por exemplo, questões fiscais: não pode ser mais barato para um motorista ter um carro a gasóleo do que um 100% elétrico. Há benefícios fiscais para a adoção de caros elétricos, mas também há para carros a gasóleo ou que têm uma utilização comercial. O custo comparativo ainda não é muito favorável ao carro elétrico.”
Numa tentativa de diluir os custos e acelerar a transição, a Uber Portugal assinou parcerias com a Nissan e a LeasePlan, para facilitarem o acesso dos motoristas aos carros elétricos, e ainda outro com a PowerDot, uma startup portuguesa, para melhorar a oferta da rede de postos de carregamento.
E se os preços dos combustíveis continuarem a subir?
Faz este mês um ano que a Uber decidiu que, nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, além de Braga e Faro, qualquer veículo adicional na aplicação Uber tem de ser elétrico, lembra Manuel Pina. “Desde que fizemos esta alteração, o número de veículos elétricos aumentou 20%. Portugal está entre os países do mundo com maior número de carros elétricos parceiros da Uber.”
A empresa ainda está longe dos seus objetivos, mas a pandemia pode ser um empurrão na direção certa. “As pessoas perceberam o efeito da poluição nas cidades e o valor de existirem políticas mais agressivas de descarbonização. Temos visto um aumento muito grande neste tipo de viagens. Desde que lançámos o Uber Green, em 2016, já foram feitas mais de sete milhões de viagens em veículos 100% elétricos só em Portugal. São utilizadores que pedem especificamente viagens Uber Green. A percentagem tem aumentado bastante de ano para ano, e sobretudo no último ano. As pessoas querem cada vez mais fazer viagens de forma sustentável.”
Uma opção facilitada pela política de preços, iguais aos do Uber X. “Tomámos a decisão de não ter preços diferentes. É fundamental que o utilizador não seja obrigado a pagar mais por uma viagem num carro elétrico. A decisão foi manter os preços exatamente iguais. Temos é de garantir que para o parceiro não seja mais caro oferecer serviços em carros elétricos.”
Em Portugal, o custo com a gasolina e o gasóleo pode acelerar a transição para a mobilidade elétrica. O diretor-geral da Uber em Portugal diz que ainda não tem visto “uma grande correlação entre preços dos combustíveis a a adoção de carros elétricos”. Mas, acrescenta, “se os preços continuarem a subir, não tenho dúvidas que os parceiros TVDE vão começar a olhar para os veículos elétricos com mais atenção, para se defenderem do aumento de combustíveis”.
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