Em 2015, países de todo o mundo prometeram muito. Mas estão a fazer pouco. Assim se resume o Acordo de Paris, o último grande esforço de redução de emissões, que tenta(va) limitar o aquecimento global a 2ºC, na pior das hipóteses, e preferencialmente a 1,5ºC. Neste momento, com as medidas em cima da mesa, caminhamos para um aumento de temperatura de 3ºC.
“As instituições não estão a fazer o que é necessário”, diz Mariana Rodrigues, ativista do grupo Climáximo, na conversa da VISÃO VERDE desta semana. “A ciência atual diz-nos que temos menos de 10 anos para agir radicalmente. Mas continua a não haver os cortes necessários. Há um mês, as Nações Unidas lançaram um relatório a dizer que, apesar de os cortes de emissões terem de atingir os 50% até 2030, os compromissos dos governos só perfaziam 1% dos cortes.”
O problema, acrescenta, é que as medidas “das instituições e dos governos ficam muito aquém do que é necessário”. Para ajudar a “travar o caos climático”, cabe às pessoas e aos movimentos pegarem nas rédeas. Foi isso que fez o Climáximo quando decidiu avançar com um inventário de emissões, no âmbito do Acordo de Glasgow (uma iniciativa do movimento global Justiça Climática, que põe o foco na sociedade civil).
O inventário, que identifica as infraestruturas com maiores emissões em Portugal, é “um mapa do que está a acontecer para, a partir daí, fazer planos de ação”. Não foi um trabalho fácil, lamenta a ativista: a informação devia ser transparente e facilmente acessível, mas na realidade não é. “Não conseguimos facilmente ter acesso.”
Para rua, novamente
Mariana Rodrigues confessa não ter grandes expectativas para a Cimeira da ONU em Glasgow, no final deste ano, que pretende fortalecer a redução de emissões definida em Paris em 2015. “O Acordo de Paris está enterrado. Depositar a nossa esperança no Acordo de Paris é deixar a nossa casa arder. A inação dos governos é gritante e deliberada.”
Isso não vai mudar. “Os governos vão continuar a não fazer o que devem, porque vivemos num sistema que põe o lucro à frente das pessoas. Preferem salvar acionistas e os interesses da indústria fóssil em vez de cuidar das pessoas.” A preocupação é “manter os lucros e garantir o interesse do 1% da população que tem maior poder financeiro”.
Mas os ativistas em geral e os jovens em particular não vão ficar calados à espera que o céu lhes caia em cima da cabeça. “É necessário haver uma mobilização coletiva e irmos para as ruas e criarmos o nosso próprio plano, porque as instituições vão continuar a falhar-nos.” Com a pandemia a aproximar-se, lentamente, do fim, os grupos pelo clima começam já a preparar os slogans. “O movimento está de novo a sair às ruas.”
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