A poluição provocada pela queima de combustíveis fósseis mata anualmente quase o equivalente à população de Portugal. De acordo com um estudo publicado na revista científica Environmental Research, em 2018 morreram 8,7 milhões de pessoas devido a doenças provocadas ou agravadas pela má qualidade do ar.
As responsáveis pela deterioração da saúde são as chamadas partículas finas, ou PM2,5: partículas 30 vezes mais pequenas que o cabelo humano, libertadas pelas centrais termoelétricas, fábricas, tubos de escape dos automóveis, de aviões, dos incêndios e da queima de lenha. Visto que são muito pequenas, estas partículas ficam no ar mais tempo, o que aumenta a probabilidade de serem inaladas por humanos. Uma vez inaladas, passam pela garganta e podem alojar-se no tecido dos pulmões.
Um estudo publicado na Revista da Associação Médica Americana mostra que a exposição prolongada a esta partícula pode chegar a causar ataques cardíacos, bem como aumentar a probabilidade de se morrer por cancro do pulmão. A exposição prolongada pode reduzir a esperança média de vida. A poluição está também ligada à perda de visão.
Os 8,7 milhões de mortes ligadas à poluição provocada pelos combustíveis fósseis, do estudo da Environmental Research, excederam todas as expectativas, dado que ultrapassa por muito as mortes por AVC ou por acidentes rodoviários (ambas mais de 1 milhão por ano). “Estávamos muito hesitantes quando recebemos os resultados, pois estes são surpreendentes, mas temos estado a descobrir mais e mais acerca do impacto desta poluição. Quanto mais impactos procuramos, mais encontramos”, disse Eloise Marais, uma das autoras do estudo, ao jornal britânico Guardian.
Pode ser ainda pior
Neste estudo, que envolveu investigadores das Universidades de Harvard (EUA) e de Leicester (Inglaterra), os investigadores utilizaram um modelo 3D global da química atmosférica, supervisionado pela NASA, que tem uma resolução muito detalhada e pode distinguir entre as fontes de poluição. A equipa recorreu aos dados recolhidos 2012 e em 2018.
Os resultados mostraram uma taxa de mortalidade maior do que se pensava anteriormente, mesmo em concentrações relativamente baixas. Por exemplo “a qualidade do ar da China melhorou, mas as suas concentrações de partículas finas (PM2,5) ainda são incrivelmente altas”, disse Marais.
O número de mortes pode até ser superior. George Thurston, um especialista em poluição do ar e saúde na escola de medicina da NYU (Universidade de Nova Iorque), afirma que “este novo trabalho deixa mais claro do que nunca que, quando falamos sobre o custo humano da poluição do ar ou das mudanças climáticas, as principais causas são uma e a mesma – a combustão de combustível fóssil”.