Ainda falta mais de ano e meio para ser inaugurada a ligação das linhas Amarela e Verde, do Metro de Lisboa, mas a partir de hoje já se consegue passar da Estrela para Santos por baixo da terra – a pé e por entre o pó. Foi isso que fez hoje Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, na companhia do secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, do CEO do Metro de Lisboa, Vitor Domingues dos Santos, e de um grupo de jornalistas, para assistir à abertura do tampão que impedia a ligação entre a (futura) estação da Estrela e o túnel em direção à (também futura) estação de Santos.
“É uma nova fase da obra da linha circular”, disse o ministro, em declarações aos jornalistas, segundos depois de ter sido aberta uma passagem na parede que dividia o túnel. “É uma obra muito complexa do ponto de vista de engenharia, mas está a andar de forma positiva. Estima-se que termine em outubro de 2024.”
Duarte Cordeiro enquadrou a expansão do metro na descarbonização a que Portugal se comprometeu, no âmbito do Acordo de Paris e do Fit for 55, o pacto climático da União Europeia que prevê um corte de emissões de 55% até 2030. “É muito importante para os objetivos do País do ponto de vista das alterações climáticas. Há um grande investimento em curso. Só para a extensão do Metro de Lisboa, estamos a falar de mais de mil milhões de euros de investimento, que vai alargar a rede em 18 quilómetros. Vamos ter mais 45 milhões de viagens por ano e uma redução de emissões de 30 mil toneladas de CO2 equivalente. São impactos muito significativos para atingirmos a neutralidade carbónica e reduzir, até 2030, 40% das emissões no setor da mobilidade. Queremos tornar mais atrativo o transporte coletivo.”
Os 18 quilómetros referidos pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática incluem a nova linha Violeta e a extensão da Vermelha. “Estimamos que as obras terminem no final de 2026. No caso da Vermelha, tivemos agora a abertura do concurso e esperamos entrar em obra até ao final do ano. No da Violeta, estamos a terminar a avaliação de impacte ambiental e esperamos lançar o concurso no primeiro semestre deste ano.”
A linha Violeta (que será maioritariamente de superfície) terá 19 estações, 11 das quais no concelho de Loures e oito no de Odivelas e Loures. A linha Vermelha, por seu lado, terá quatro novas estações: Amoreiras/Campolide, Campo de Ourique, Infante Santo e Alcântara.
Duarte Cordeiro garantiu ainda, em resposta a uma pergunta, que os solos contaminados terão o “conveniente tratamento, como tem de ser do ponto de vista ambiental”. “Não pode ser de outra forma. Todos os solos que forem identificados são devidamente encaminhados para tratamento.”
Recorde-se que, em 2019, o Metro de Lisboa previa que os solos contaminados fossem enviados para aterros simples, o que seria muito mais barato (o tratamento de solos é dispendioso), mas que podia pôr em causa a saúde pública. “Afigura-se recomendável, quer do ponto de vista ambiental quer economicamente, privilegiar o envio dos solos do ‘aterro’, maioritariamente contaminados, para aterros de resíduos inertes”, respondeu na altura a empresa a uma pergunta da VISÃO, para um artigo sobre contaminação de solos.
Nessa altura, já a área de Santos estava identificada pela Câmara de Lisboa como local potencialmente contaminado com metais pesados, como mercúrio e chumbo. E o Plano de Pormenor do Aterro da Boavista Poente, aprovado a 17 de julho de 2018 pela Assembleia Municipal de Lisboa, referia explicitamente a expansão do metro: “Nos espaços a consolidar, perante a possibilidade de os solos estarem contaminados, a realização de obras de urbanização com impacto no subsolo, incluindo a ampliação da rede de metropolitano, e a realização de obras de construção nova estão sujeitas a prévia avaliação da qualidade do solo. (.) Quando se verifique a contaminação do solo, o respetivo proprietário é obrigado a apresentar um plano de descontaminação dos solos, tendo em conta o uso atual e os usos admissíveis nos termos do plano, estando a operação de descontaminação dos solos sujeita a licenciamento.”