As pradarias marinhas são comunidades sub- ou intertidais de plantas marinhas. Apesar de desconhecidas para a maioria das pessoas, estas plantas têm uma importância vital, assegurando um conjunto serviços indispensáveis à sobrevivência e bem-estar dos seres humanos.
O que são afinal pradarias marinhas?
As pradarias marinhas são comunidades biológicas únicas, constituídas por plantas aquáticas subtidais ou intertidais. Estas plantas, também conhecidas por ervas marinhas, possuem raízes, caule e folhas e ocorrem geralmente em manchas extensas, localizadas em águas costeiras abrigadas e pouco profundas como os estuários, lagoas ou rias.
Estas pradarias ocorrem em 191 países, distribuídos por 6 biorregiões globais, que incluem os mares tropicais e temperados. Em Portugal, as pradarias podem ser encontradas na Lagoa de Óbidos, nas rias de Aveiro, do Alvor, do Arade e Formosa, em algumas zonas abrigadas do Algarve e Arrábida e nos estuários do Mondego, Tejo, Mira e Sado. Apesar de, a nível mundial, estarem descritas mais de setenta espécies de ervas marinhas, em Portugal podemos encontrar apenas três: Zostera marina, Zostera noltii e Cymodocea nodosa.
Estima-se que mais de mil milhões de pessoas vivam a menos de 100 km de uma costa com pradarias de ervas marinhas. No entanto, os benefícios destes ecossistemas costeiros vão muito para além da faixa costeira, assegurando serviços vitais para toda a população humana. A estes benefícios chamamos serviços dos ecossistemas.
Serviços dos ecossistemas providos pelas pradarias marinhas
De entre os vários serviços prestados pelas pradarias marinhas, destaca-se o seu papel fundamental na produção primária dos oceanos, com taxas de produção de oxigénio superiores às dos recifes de coral ou até mesmo às florestas de mangal. Pela elevada produtividade e pela proteção que as suas longas folhas conferem, as ervas marinhas constituem importantes viveiros naturais para diversas espécies com interesse comercial, como bivalves, crustáceos, polvos, chocos ou peixes.
Importantes para as espécies pesqueiras, as pradarias marinhas conferem também abrigo e alimento a muitas espécies com elevado interesse de conservação como tubarões, dugongos, tartarugas marinhas e cavalos-marinhos. Pelo potencial que estas espécies marinhas representam para o turismo, as pradarias marinhas asseguram também assim importantes serviços culturais, associados a atividades de mergulho ou birdwatching. De entre os serviços culturais destacam-se ainda múltiplas utilizações das ervas marinhas que representam modos de vida tradicionais e espirituais para pescadores e outras comunidades costeiras, nomeadamente enquanto medicamentos e amuletos para aumentar a sorte ou remover feitiços.
Além do efeito protetor sobre os organismos marinhos, as longas folhas das ervas marinhas contribuem igualmente para a redução dos fluxos de água e diminuição da energia das ondas, favorecendo a estabilização dos sedimentos e prevenindo a erosão costeira. Desta forma, as pradarias marinhas desempenham um importante papel na proteção costeira, cada vez mais relevante no contexto das alterações climáticas, no qual se prevê o aumento da frequência e intensidade das tempestades marítimas.
As pradarias marinhas conseguem ainda absorver nutrientes dos sedimentos e da coluna de água e diminuem a concentração de partículas em suspensão. Adicionalmente, estas plantas reduzem significativamente a carga bacteriana presente na coluna de água, prestando um importante serviço de prevenção de infeções bacterianas quer em humanos quer em outros organismos dos quais nos alimentamos. Desta forma, as pradarias prestam um importante serviço de purificação da água, aumentando a transparência e qualidade das águas marinhas e costeiras.
As pradarias marinhas são um dos sumidouros de carbono mais eficientes do planeta, conseguindo armazenar grandes quantidades de carbono nas suas folhas, raízes e no sedimento. Estima-se que cerca de 20% do total de carbono absorvido pelos oceanos seja sequestrado pelas pradarias marinhas. A quantidade de carbono armazenada por este ecossistema é cerca do dobro da quantidade armazenada pelas florestas temperadas. Mas, ao contrário do que ocorre nos ecossistemas terrestres, nos quais o carbono é armazenado durante dezenas ou centenas de anos, o carbono sequestrado pelas pradarias marinhas pode permanecer armazenado no sedimento durante vários milhares de anos. Assim, as pradarias marinhas desempenham um importantíssimo papel no combate às alterações climáticas, com benefícios para toda a população humana.
Quanto valem as pradarias marinhas?
Apesar dos múltiplos benefícios que as pradarias marinhas nos prestam, estas têm vindo a ser negligenciadas na agenda de conservação mundial. O que se tem refletido num acentuado declínio em todo o mundo desde a década de 80, causado maioritariamente pelas atividades humanas associadas ao desenvolvimento costeiro e à poluição da água. Só mais recentemente, com o reconhecimento da sua importância ao nível global através do sequestro de carbono, as pradarias têm vindo a ser consideradas na agenda de conservação e reconhecidas pelo seu valor para a sociedade.
Para lá do valor intrínseco que este ecossistema possui, e que é incalculável, as pradarias marinhas começam então a ser reconhecidas pelo seu valor instrumental, isto é, a utilidade para os seres humanos. Este valor instrumental pode ser convertido num valor monetário, através de diversos métodos econométricos. As estimativas existentes apontam para valores monetários que variam entre algumas centenas de euros por ano, relativas ao serviço de suporte às atividades pesqueiras, por exemplo, e os milhares de milhões de euros por ano, relativos ao sequestro de carbono.
Apesar de possuirmos já algumas estimativas de valor económico para alguns locais, estas tendem a reduzir-se a um conjunto restrito de serviços dos ecossistemas, sendo ainda inexistentes estudos que estimem o valor económico total das pradarias, considerando os múltiplos serviços por estas prestados em cada local em particular. No entanto, e reconhecendo que os valores calculados são apenas uma pequena porção do valor total destes ecossistemas, estas estimativas são fundamentais para assegurar a conservação das pradarias marinhas.
Ainda que se reconheça um valor intrínseco, incalculável, destes ecossistemas, quando estão em causa decisões relativas ao desenvolvimento costeiro, como a construção de portos e marinas em locais onde existem estas pradarias, a ausência de estimativas de valor monetário das mesmas faz com que os custos da sua destruição sejam considerados como sendo zero, ignorando assim todos os benefícios que as pradarias prestam à sociedade. Desta forma, a valoração económica (i.e., a estimativa de valor económico) dos serviços prestados pelas pradarias marinhas, ainda que reconheçamos que correspondem a subestimativas, permitem incorporar os benefícios da conservação das pradarias na tomada de decisão, comparando-os com os custos da sua destruição ou os benefícios económicos do desenvolvimento costeiro. Esta integração de valor económico dos ecossistemas naturais pode assim promover decisões mais eficientes, que minimizam os custos sociais e promovem o desenvolvimento sustentável.
Como vimos, estes ecossistemas são extremamente importantes e existem em vários estuários e rias de Portugal. No entanto, são desconhecidos da maioria das pessoas. Por esta razão, um importante passo para assegurar a conservação das pradarias marinhas é também combater o desconhecimento e iliteracia marinha, divulgando a existência e importância destes ecossistemas únicos bem como, de boas práticas de conservação. Está agora nas suas mãos espalhar esta mensagem.