Assim, num pensamento rápido diria que Cavaco Silva fez autoestradas, alcatroou Portugal. António Guterres fez a Expo 98, posicionou o País na Europa e no Mundo. Durão Barroso e Santana Lopes não tiveram tempo para grande coisa, mas abriram a porta a Sócrates que digitalizou a máquina do Estado e democratizou a tecnologia, tudo o resto da história de Sócrates fica à parte. Passos Coelho equilibrou as contas e salvou-nos da banca rota. E António Costa? O que fez o atual Primeiro-ministro? Podemos falar da pandemia, mas foi um ato de gestão, qualquer um que estivesse no cargo teria de aguentar o barco.
António Costa ainda procura o facto pelo qual será recordado. E aposto que está empenhado em deixar uma marca mais política do que de obra realizada. A jogada desta semana pode ser fundamental para isso.
Vamos por partes. O Presidente da República tem falado nos últimos tempos na bomba atómica, e deixou bem claro que não abdica de dissolver a Assembleia da República se entender que chegou o momento. Mas, Marcelo sabe que esse momento está longe, muito longe. Marcelo não vai querer sair e deixar Costa em São Bento, mas ainda recentemente afirmou que o PSD não é alternativa; este cartão amarelo a Montenegro é um aviso para os sociais democratas arrumarem a casa e procurarem soluções que possam vencer umas eleições sem o Chega. O que Marcelo não quer é forçar eleições legislativas que deixem o poder numa coligação de direita com o Chega.
Com os acontecimentos desta semana, em que Marcelo pediu a Costa a demissão de Galamba e Costa decidiu enfrentar o Presidente, começou uma guerra matemática de agendas. Costa quer ir a eleições, já! Chamou os seus consultores há umas semanas, reconheceu dados, preparou a mensagem, e está pronto para ir às urnas e começar campanha. Antecipou-se a todos, planeou todos os passos e fez contas. Este é o melhor momento para ir a votos, e pode fazer história.
António Costa pode ganhar eleições nos próximos meses e deixar a sua marca: esvaziar o PSD e colocá-la como a terceira força política nacional, atrás do CHEGA. Tenho grandes dúvidas do poder de Montenegro em campanha. É nisto que Costa aposta como trunfo para forçar uma dissolução, e levar o País novamente a eleições.
O atual Primeiro-ministro é um estratega exímio, não tem medo de arriscar, e ao ter coragem para ir novamente a legislativas, e a confirmar-se esse cenário, Costa não só arrasa o PSD, como coloca Marcelo numa posição muito frágil e abre caminho a Santos Silva na presidência.
Se o PS perder as eleições, António Costa deixa a liderança, utiliza a narrativa do desgaste causado pelo Presidente da República sobre um governo de maioria, e prepara o seu cargo Europeu.
Ontem Marcelo voltou a avisar, voltou a ameaçar, não poderia fazer muito mais. Este não é o momento para a direita ir a eleições, mas acredito que Costa não vai desistir deste objetivo. Vamos assistir aos próximos capítulos desta novela televisiva.
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