Um dos factos mais notáveis da biografia de Joseph Conrad é o de não ser um nativo de língua inglesa e de, mesmo assim, ter sido um dos seus mais exímios manipuladores ao ponto de fazer parte do cânone britânico e ter influenciado directamente escritores como William Faulkner, Ernest Hemingway ou Scott Fitzgerald. Todos estes americanos magníficos afirmaram ter Conrad como referência.
A língua materna de Conrad, aquela em que aprendeu a falar e a escrever foi o polaco. O inglês chegou-lhe de forma incipiente e atabalhoada no enfim da adolescência, depois de decidir que seria marinheiro. Anos mais tarde, dirá: “A verdade é que escrever inglês surge em mim naturalmente, como outro dom que eu porventura traga de nascença. Tenho a estranha e penetrante sensação de o inglês ter feito sempre parte de mim.”
Após a morte do pai e uma pré-adolescência e adolescência entre Áustria e França, acompanhada pelo tio, naturaliza-se cidadão britânico com o nome Joseph Conrad e com ela começava o seu projecto de vida: integrar a Marinha Mercante Inglesa. Seria também o início da sua carreira de escritor: o mar, a viagem e um idioma novo que aprendeu a cultivar enquanto navegador.
Nasceu Jósef Teodor Nałęcz Korzeniowski em 1857, numa cidade da actual Ucrânia, então Polónia, filho único de uma família aristocrata, politicamente muito activa, que adopta o apelido cristão Konrad num meio de maioria judaica. Aprendeu a gostar de poesia romântica polaca e de Shakespeare com o pai, tradutor e fervoroso adepto da independência da Polónia face ao império russo de que então fazia parte. Essa base, revolucionária, literária, inconformada, ficou-lhe e faz parte de uma obra que reflecte influências do romantismo, mas é percursora do romance moderno.
A escrita de Joseph Conrad é o resultado da experiência do viajante, do aventureiro, vagabundo que cultiva as letras e quer acrescentar alguma coisa a tradição realista. Ele era um admirador de Henry James. Seguiu-lhe a clareza, mas acrescentou o negrume e o fascínio pelos territórios periféricos, limites. Morreu em 1924, provavelmente vítima de um ataque cardíaco, e frustrado com alguns críticos que o viam simplesmente com um escritor de aventuras marítimas. Foi mais.