À primeira vista, o mundo ocidental defende os direitos das mulheres e parece favorecer as que assumem cargos de liderança. Ainda assim, porque é que quando uma mulher assume um cargo de liderança numa empresa, tal ainda é notícia? Nesta dualidade entre a tendência de normalização por um lado, mas de destaque nos media sempre que acontece, parece-me claro que, o facto de ainda ser notícia, mostra-nos que não é tão comum quanto gostaríamos que (já) fosse.
Em Portugal, apenas 27% das mulheres ocupam cargos de liderança nas quase 40 mil empresas criadas no país. Face a 2019, estes dados evoluíram apenas 1%, apesar de o género feminino possuir os níveis mais elevados de escolaridade. No entanto, a paridade em cargos de alta responsabilidade ainda é muito discrepante.
Se dúvidas existirem, basta analisar o setor tecnológico, aquele que envolve os empregos do futuro, onde a presença feminina ainda é tão reduzida. Só 14,4% são mulheres e poucas assumem cargos de CEO em empresas da área, numa década que se propõe alcançar um “mais equilíbrio de géneros no setor”. O que fazer para inverter de uma vez o sentido de uma marcha que, por mais que se tente negar, parece estar ainda tão enraizada neste campo?
Empresas que adotam a diversidade em cargos de chefia são mais bem-sucedidas
Este é um tema que está na ordem do dia e que tem vindo a ser discutido a nível europeu, uma vez que, existem já vários estudos que revelam que as empresas que adotam a diversidade em cargos de chefia são mais bem-sucedidas. A mudança, segundo tem vindo a frisar a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pode sim passar por uma ação regulatória que favoreça homens e mulheres por igual – em questões salariais, licenças parentais desde logo – uma vez que não está, de todo, a acontecer naturalmente, nem tão rápido como seria expectável, em pleno século XXI.
Infelizmente, a vida pessoal de uma líder feminina ainda é, muitas vezes, tema de debate. Porque decidem conciliar a sua vida pessoal com uma carreira profissional bem-sucedida e assumem-no abertamente, porque equilibram a vida familiar e o trabalho ou até porque são independentes e seguras de quem são. A polémica recente em que a Presidente da Finlândia, Sanna Marin, esteve envolvida, mostra-nos exatamente isso. Ainda é difícil assumir que uma mulher possa divertir-se livremente e que isso não a impede de desempenhar o seu cargo profissional de forma segura e responsável.
Uma aposta em modelos orientativos, cooperativos e de liderança horizontal é uma tendência atual, assumida, muitas vezes, por líderes femininas no setor tecnológico. Tal ainda não é suficiente para essa igualdade tão desejada, mas é já um sinal de mudança num longo caminho a percorrer. Que não restem dúvidas de que o futuro empresarial tecnológico necessita de mais líderes femininas, que rompam padrões e inspirem as gerações mais jovens a acreditar que têm lugar em posições tão competitivas e atribuídas maioritariamente a homens, porque são tão válidas como eles e porque se formaram para tal.
Pegando no célebre verso, Who run the world”, quem moverá, afinal, o mundo empresarial do futuro? Certamente homens e mulheres com formação para o fazer, em igualdade de direitos e de oportunidades para chegar onde realmente desejam, sem juízos de valor associados.