Algumas vozes indignaram-se com as afirmações do distinto banqueiro Português, António Horta Osório, por ter dito uma verdade incontornável sobre o que as famílias portuguesas terão de fazer no curto prazo: “se possível poupar um pouco mais, reduzir dívida” (Porto, 28 de junho de 2022).
Os níveis de poupança em Portugal já foram muito mais baixos face aos valores atuais que estão acima dos 10%. A Taxa de Poupança é calculada pelo rácio poupança / rendimento disponível, ou seja, em média, uma família que ganhe 1.000€ poupa 100€. Mas sabemos que parte deste valor é consequência de atividades que reduzimos por efeito pandemia e pós-pandemia e não, necessariamente, por uma decisão consciente de poupança como prudência para enfrentar o futuro próximo.
A inflação de toda a zona Euro, e que já chegou de forma expressiva a Portugal, não está a ser acompanhada pela subida dos salários. Mesmo que no início de 2023 subam mais os salários, esse aumento nunca acompanhará o ritmo da inflação. O que significa que os mesmos 1.000€ de rendimento não permitirão fazer o mesmo estilo de vida. Se ao aumento dos preços dos bens e serviços ainda acrescentarmos o aumento das taxas Euribor, e sabendo que em Portugal 93% contrata Crédito Habitação com a taxa variável indexada à Euribor (dados BdP 2020), então vai ser mais expressiva a dificuldade de esticar o rendimento disponível.
Para evitar poupanças forçadas, isto é, à custa de grandes sacrifícios e sem preparação, as palavras de António Horta Osório ganham relevância. Não revelam nenhuma falta de sensibilidade e muito menos desconhecimento da realidade. São palavras prudentes que querem evitar cenários como os que vivemos em 2011.
A par com a poupança está a importância de reduzir as dívidas e neste aspeto quanto mais cedo começarmos mais fácil será. Podemos reduzir dívidas através de diferentes mecanismos:
- Consolidação. Por este via o cliente pode refinanciar o valor atual em dívida com taxa de juro mais baixa. Se o cliente quiser acrescentar dívida na consolidação, então não faria sentido para o propósito de desendividamento. A forma como se consegue poupar com o consolidado é sobretudo através do financiamento com taxa de juro mais baixa face à dos créditos que estão a ser liquidados. Por exemplo, acabar com alguns dos cartões de crédito liquidando-os com o montante do consolidado.
- Liquidação crédito a crédito. Nesta opção há pessoas que defendem a estratégia Debt Snowball de começar por liquidar os créditos com montante em dívida mais baixo para daí seguir-se o efeito de bola de neve. Outros defendem (onde me incluo) que devemos começar por liquidar os créditos com taxa de juro mais altas. A taxa de juro reflete o custo desse empréstimo e quanto mais cedo acabar com essa linha de crédito melhor negócio estou a fazer para a minha vida financeira. Qualquer uma destas opções implica ter folga financeira para canalizar a poupança para estes fins.
- Renegociar com os bancos. Sim! Com os bancos também é possível negociar. Podemos negociar porque somos bons a aproveitar as oportunidades do mercado ou porque estamos numa situação de maior aflição e não queremos enterrar a cabeça na areia. Sobre este último aspeto beneficiamos dos erros do passado que levaram muitas famílias a situações de grande desespero. Desde o final de 2012 que se legislou para que as famílias estivessem mais protegidas de situações potenciais de incumprimento e que os bancos se responsabilizassem por encontrar alternativas, que permitissem evitar essas situações. Refiro o Decreto-Lei 227/2012 PARI-PERSI como a base de entendimento para clientes e bancos conseguirem chegar a situações que estanquem aumentos de endividamento de famílias em maior fragilidade financeira.
Com este enquadramento, creio que a citação de António Horta Osório com que comecei ganha sentido de oportunidade e deve ecoar, para que não seja por falta de conhecimento da realidade que não estejamos preparados para o inevitável.