Há livros que marcam, por toda uma variedade de razões. Alguns, contam histórias que nos envolvem e fascinam. Outros, levam-nos a viver memórias que não são nossas, em locais que nunca visitámos e em circunstâncias insólitas. Fazem-nos rir, chorar, surpreendem a cada passo… E depois, há os livros que dizem exatamente o que sentimos.
“O Amor como Critério de Gestão”, de António Pinto Leite, é um bom exemplo disso. Foi editado há quase dez anos, mas é intemporal, assim como os valores e os princípios que defende. E é absolutamente desarmante, ver espelhada em cada página ou capítulo uma ideia que defendo, que assumo como prática do dia a dia e que é alicerce do meu conceito de gestão. Essa ideia, estando bem enraizada na cabeça (e sobretudo no coração) do gestor, acaba por chegar a todos os campos da sua atividade empresarial. E é por isso que, mais do que uma ideia, o amor é um dos mais poderosos aliados que podemos ter, como uma semente que precisa de ser regada com regularidade e que vai, com toda a certeza, dar-nos frutos, hoje e sempre.
No entanto, o mundo dos negócios continua a ser visto por muitos como um campo de batalha, onde a ação é movida exclusivamente por números, sem contemplações, sem hesitações e sem desculpas. Um mundo onde não cabem afetos, onde o amor é um corpo estranho e um obstáculo à conquista de lucro e crescimento. Nada mais ultrapassado, nada mais limitador e nada mais falso. A realidade prova o contrário.
Já o prova há muitos anos, aliás, o que torna mais inexplicável que haja ainda quem ignore as evidências. As empresas de maior sucesso regem-se, quase sempre, por uma escala de valores transversal a todos os departamentos, onde são comuns ideais de motivação, inspiração, proximidade, afetividade, que revelam ser genuinamente mobilizares a todos os níveis, tirando o melhor de cada um.
O primeiro mandamento cristão fala-nos de amor. Amor a Deus, amor ao próximo e, porque não, também a nós próprios. Se tudo parte daqui, se não há amor como o primeiro, porque tem de ser a economia um território adverso a um conceito tão poderoso e essencial? Tenhamos ou não a religião como parte importante das nossas vidas, a verdade é que ninguém é indiferente ao amor ou desconhece o impacto inacreditável que tem em nós, seres humanos. Um impacto demasiado significativo para ser menosprezado, seja onde for.
“Tratar todos como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no seu lugar” é muito mais do que um lema – É amor em cada palavra. É isso que nos leva, enquanto gestores, a procurar o bem comum além do interesse individual, a fomentar o espírito de grupo, a verdadeira noção de equipa, a comunidade humana que queremos que a empresa seja. O amor ao próximo não é fragilidade, é um trunfo. E quem numa leitura superficial identifica tudo isto como uma espécie de renúncia à atividade lucrativa não podia estar mais enganado. Quando numa empresa as pessoas têm nome, têm voz, interesses, qualidades e coisas a melhorar… Quando têm família, contextos de vida e objetivos a curto, médio e longo prazo, garantir a sustentabilidade do negócio torna-se primordial para que continue a servir a comunidade humana que depende dele. O amor faz das empresas mais produtivas porque tudo o que fazemos uns pelos outros é um investimento sincero e ponderado no sucesso coletivo.
É o amor que nos leva a criar uma cultura de exigência, ajudando cada um a aspirar à melhor versão de si próprio, a acreditar no seu potencial e a ser um pouco mais empreendedor, todos os dias. É o amor que nos inspira a partilhar o que sabemos, a sentir paixão pelo que fazemos, a promover o afeto, a delicadeza e a gratidão quando todos dão tudo e apenas era preciso mais um pouco. Face ao pensamento cinzento, dogmático e inflexível, é o amor que faz a diferença. E isso, mais do que a mensagem de um livro, é uma verdade absoluta.