Sentei-me para escrever este artigo depois de ter recebido um texto do Hugo Salgueiro, meu sócio e um dos meus companheiros de luta, porque é isso que somos neste momento – guerreiros.
Referia o Hugo que , existem dois vetores essenciais nesta luta. A saúde em primeiro lugar, mas também a sustentabilidade financeira das famílias e das empresas, em paralelo e/ou consequência. O apoio aos empresários é fundamental. Na verdade não salvamos propriamente vidas, mas somos bombeiros da nossa economia.” Acrescentava ainda que “o apoio do governo nesta matéria, assim como no apoio ao SNS, tem sido manifestamente insuficiente! A nós gestores, sobretudo de PME’s, compete-nos antecipar a sustentaibilidade das famílias e empresas. Porque depois dos heróis da primeira linha, estamos nós para assumir o comando da recuperação económica.”
É óbvio que a prioridade é a saúde, a proteção dos nossos, das nossas famílias e de todos os portugueses. Contudo, é essencial que em paralelo existam medidas assertivas e rápidas do Governo em colaboração com entidades bancárias e outros organismos, que nos permitam fazer face à recessão económica que sem dúvida se avizinha. O meu apelo é por um alinhamento claro entre regulador, entidade empregadora e colaboradores. Porque, relançar a economia é relançar cada empresa. Relançar cada empresa é relançar cada pessoa, uma por uma.
Hoje falo em particular das empresas de serviços, como os contabilistas, os IT (assistência técnica) e os Advogados que, neste momento de crise estão a ser a grande força e pilar das micro, pequenas e médias empresas. Estas empresas de serviços alimentam todo este processo de implementação das medidas de acesso ao lay-off. Vejamos, o pedido do mesmo só pode ser certificado por um contabilista, sendo necessário um Advogado para dar inicio ao processo e as equipas de IT para proverem aos colaboradores em teletrabalho. Ora, estas empresas foram deixadas de fora do âmbito da implementação rápida desta poilitica de manutenção dos postos de trabalho, muito legitima mas que necessita também de assegurar a subsistência das entidades empregadoras. Nomeadamente, as empresas de contabilidade não vão ter quebras abruptas de facturação ou ver as suas avenças rescindidas, o que vão ter é falta de recebimento, o que na prática leva à mesma situação de crise económica.
Quando na nova portaria foi alterado o conceito de crise empresarial, não se acautelou que muitas PME’s não terão disponibilidade para pagar aos contabilistas, às equipas de IT e aos Advogados. Não existe resposta por parte do regulador a estas empresas. Este grupo de serviços foi deixado de parte, precisamente por não ter uma quebra evidente de faturação, mas sim uma inevitável quebra de liquidez. Qual a resposta do Governo? Terão estas empresas uma almofada financeira para fazer face aos seus compromissos financeiros e com os seus colaboradores que, mais do que nunca se tornam imprescindíveis ao bom funcionamento da atividade das empresas? Acredito que não.
Em Portugal as microempresas representam 96% do nosso tecido empresarial, faturam abaixo de 2 milhões de euros e vivem do cash flow diário, empresas que não têm poupanças ou tesouraria para fazer face à crise económica que esta Pandemia vem provocar. Muitas serão obrigadas a fechar ou a parar de forma repentina a sua atividade, dificilmente conseguirão resistir.
As medidas conhecidas até hoje, permitem de facto o diferimento de tesouraria a que recorrem sobretudo para o pagamento a colaboradores, impostos, fornecedores, renda e créditos. Contudo, do meu ponto de vista, estas soluções ajudam-nos apenas a “adiar o problema”. Porquê? Porque obviamente neste momento terão menos peso na tesouraria, mas terão que pagar a fatura mais tarde.
É por isso fundamental para estas empresas com dimensões mais pequenas ter cash flow, principalmente para a manutenção dos postos de trabalho, que neste momento não estão protegidos. Foi publicado o lay off simplificado, o que não implica liquidez. Mesmo que as empresas possam recorrer a esse regime, 70% dos salários continuam a ser suportados pela entidade empregadora que será reembolsada, mas quais os prazos para o reembolso? Porque é que a Segurança Social não paga os 70% diretamente aos colaboradores? Porque é que tem de ser via empresa? Terão as micros e pequenas empresas liquidez para continuar a suportar este custo? Quais as medidas do governo para a manutenção dos postos de trabalho? Se o governo não interferir agora vai ter de interferir mais à frente com subsídios de desemprego?
Por isso, nós gestores, que acreditamos nos nossos negócios, que fechamos portas por tempo indeterminado e pelo bem comum, que temos famílias sobre a nossa responsabilidade, aguardamos medidas que nos apoiem na proteção ao emprego efetivo nas nossas empresas.
É urgente garantirmos uma economia nos mínimos. É urgente garantirmos que as empresas têm capacidade para um novo arranque. É urgente que as empresas mantenham os seus postos de trabalho. É urgente um maior alinhamento possível entre entidade empregadora e colaboradores. É urgente manter vivas as nossas empresas em torno de um objetivo comum: a recuperação económica.
Do governo, precisamos de garantias que nos permitam aguentar o motor em ponto morto e não desligado, pois nós portugueses, com força e determinação, iremos certamente arrancar em primeira e começar uma nova viagem!