Foi numa conversa divertida e informal que Isabel Vaz e Vítor Ribeirinho tentaram traçar prognósticos para as desafios das lideranças nos próximos meses e anos, tendo por base o KPMG CEO Outlook 2022, um estudo que a consultora faz há vários anos a nível global e também para o mercado nacional. Os dois responsáveis estiveram em palco com o diretor da EXAME, Tiago Freire, na Portugal em EXAME: A economia na encruzilhada.
Entre as preocupações apontadas como prioritárias pelos CEO estão as perspetivas económicas, a dificuldade de reter talento e a incorporação dos critérios ESG na atividade empresarial. Apesar de poder haver algumas diferenças entre o lugar que ocupam no ranking das preocupações consoante a geografia ou o setor – a verdade é que estes serão os grandes temas em agenda nos próximos anos.
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Para Vítor Ribeirinho, a cibersegurança deve continuar a estar no topo das apostas das lideranças, numa altura em que em Portugal o tema tem marcado muito a agenda – também à conta de uma maior mediatização, recordou – mas sobretudo porque todas as questões que lhe estão associadas trabalham em ecossistema. Uma ideia partilhada por Isabel Vaz que lembra que “se houver um ataque informático aos media ou ao setor das telecomunicações, isso tem impacto nos meus hospitais”, sendo que atualmente já não há como “ter um circuito paralelo em papel”.
Mas, admite, há um outro tema que, em paralelo, também lhe tira o sono que é a atração do talento. “Estamos todos a passar por uma guerra de talento mundial. Não vivemos numa paróquia, estamos a competir por talento à escala global – e isso é verdade também no setor da saúde porque falamos bem línguas – e não vale a pena fazer leis a dizer que os obrigamos a ficar cá porque isso é uma tolice completa”, atira em resposta às várias propostas que tem havido neste sentido. “Temos de responder àquilo que todos nós, como CEO, sabemos que as pessoas procuram”, que é maior flexibilidade e bons salários, diz em resposta também à intervenção inicial de António Costa Silva na Portugal em EXAME.
“Portugal tem muitas coisas boas mas tem muitas coisas más. E nesta área tem muitas coisas más”, continuou Isabel Vaz. “Porque é que os EUA se adaptam mais rapidamente a tudo? Porque a economia acompanha muito mais depressa porque não tem o espartilho e as pessoas adaptam-se mais rapidamente. Porque as pessoas ao invés de estarem a aboborar em sítios em que não são precisas, vão para sítios em que são precisas. Isso é um tema que tem muito impacto na economia e, curiosamente, raramente se fala nisso”.
No mesmo sentido, Vítor Ribeirinho deu o exemplo da sua própria empresa para recordar que o ’S’, que representa o Social quando se fala de critérios ESG, é crítico para a sobrevivência das organizações, e que as empresas têm mesmo de o priorizar nos próximos tempos: “Na KPMG estamos a dar voz aos nossos jovens, a permitir-lhes multi-experiências, que é isso que muitos dos nossos jovens referem como fator de retenção. O caminho do ESG não é apenas um instrumento sexy para se falar numa conferência destas. É algo que tem mesmo de estar incorporado” nos planos operacionais, salienta. Mas admite que ainda há empresas em Portugal que não conseguem entender os impactos financeiros que essa urgência pode ter nas suas organizações.
Em jeito de exemplo, refere que a KPMG fez um investimento global de 1,5 mil milhões de euros em pessoas, dos quais uma grande fatia foi para capacitar as pessoas dentro da própria organização, por ter noção de que elas são os seu principal ativo, e que garantir a sua qualidade e valor é fundamental para a manutenção dos bons resultados.
Em jeito de conclusão e quase de resumo, Isabel Vaz recordou que só não olha para os critérios ESG com seriedade quem “esteja a desconversar” uma vez que, recorda, todos eles contribuem para a margem financeira das organizações.
Isto “tem a ver com incentivos de longo prazo e políticas e não vejo como poderão não ter impacto na margem. Só um CEO com muita má vontade e que esteja a desconversar é que não vê o impacto a curto, médio e longo prazos na incorporação dos critérios ESG. E isso tem que ver com seriedade, carácter e com a forma como os CEO portugueses, e não só, se posicionam”, termina.
A conferência ‘Portugal em EXAME: a economia na encruzilhada’ foi promovida pela revista EXAME, com os apoios do Bankinter, do grupo Your e da KPMG.