A economia global passa por tempos desafiantes. Após o impacto da pandemia, surgiu um choque geopolítico causado pela invasão da Rússia à Ucrânia e pela concorrência cada vez mais aguerrida entre os EUA e a China. António Costa Silva considera que “ainda é muito cedo para dizer que terminamos uma era e começamos outra”. Mas o ministro da Economia e do Mar não tem dúvidas de que “há impactos muito grandes no funcionamento da economia mundial”.
Após uma fase em que a globalização avançou a um ritmo sem precedentes e em que as taxas de juro e de inflação estavam historicamente baixas, houve uma “disrupção desse paradigma”, com uma “fragmentação do comércio internacional” e agravamento dos índices de preços e nas taxas de juro, observou António Costa Silva na conferência Portugal em Exame, que decorreu esta quinta-feira em Lisboa, uma iniciativa da revista Exame que contou com o apoio do Bankinter, da KPMG e do Grupo Your.
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Apesar dos desafios, o governante considera que “a economia portuguesa respondeu de forma notável, com uma crescimento de 6,7%, o maior desde 1987”. António Costa Silva realça que há três efeitos que explicam este resultado. “Há um efeito de base que não podemos ignorar, mas houve também uma contribuição do consumo interno e da procura externa líquida”.
Entre os setores destacados pelo ministro da Economia e do Mar para os resultados positivos da economia portuguesa estiveram o do turismo, que considerou ser um “motor fulcral”. António Costa Silva destacou o “crescimento na diversificação dos mercados” e que este setor “é um impulsionador das economias locais e houve um crescimento transversal em todas as regiões”. O responsável da pasta da Economia sublinhou ainda “a resposta da metalomecânica, fabricação de máquinas e equipamento” e realçou o trabalho feito na área do têxtil, que se conseguiu transformar.
Mas, mesmo com os números positivos do crescimento no ano passado, António Costa Silva afirma que há vários desafios que têm de ser ultrapassados, numa realidade que tem sido marcada por “policrises”. Desde logo, o ministro da Economia salienta ser necessário diminuir o conteúdo importado das nossas exportações, que é dos mais altos da Europa. E essa tendência pode ser revertida com recurso “a consórcios entre empresas, universidades e a investigação que podem propiciar a capacidade de se construírem grandes plataformas colaborativas”.
Outro problema por resolver é o da solidez financeira das empresas nacionais. “O problema em Portugal não é o grande capital, mas a escassez de capital”. António Costa Silva calcula que sejam necessários entre €8 000 milhões e €10 000 milhões para suprir as necessidades de capital das empresas portuguesas. E afirma que o Banco de Fomento terá um papel essencial para ajudar a resolver este problema.
A competitividade e a produtividade são também indicadores a melhorar. “O crescimento está ligado à competitividade e produtividade” e, nestes aspetos, Portugal está bem abaixo da média europeia, o que “é um problema”. Outra prioridade é reforçar a atração de investimento estrangeiro, que teve um recuo no ano passado. Entre as prioridades estão ainda o reforço da aposta na inovação e a melhoria das infra-estruturas.
Apesar destes desafios, António Costa Silva acredita que Portugal tem potencial para continuar a crescer. Após ter registado um PIB de €210 000 milhões em 2022, o ministro acredita ser possível chegar à marca de €250 000 milhões. “O nosso país tem condições a nível empresarial, científico e tecnológico” para atingir esse objetivo, considerou o governante.
O ano de 2023 está marcado por um conjunto de incertezas. Mas, António Costa Silva vê alguns sinais encorajadores. “Vamos ver a Alemanha a evitar a recessão ou a ter uma recessão ligeira e Espanha e França também a podem evitar”, disse. Já nos mercados de energia, o governante vê uma aparente estabilização. O objetivo, revelou o ministro, “é voltar a desmentir as previsões” e conseguir um crescimento mais alto que o previsto. “Aconteceu em 2022 e espero que aconteça novamente em 2023″, concluiu.