Miguel Farinha, Partner Strategy & Transactions Country Leader da EY, parceira da Exame na conferência das 500 Maiores & Melhores, realçou a forma como Portugal “está constantemente a crescer” no ranking dos investidores estrangeiros que olham para Portugal como um forte destino de investimento. De acordo com um estudo da EY, Portugal entrou recentemente para o top 10, mas está já no 8º lugar das economias mais atrativas.
E, conjugando este dado com outros estudos, Portugal encabeça mesmo uma lista de 111 paises mais bem posicionados para se trabalhar a partir de casa para uma empresa em qualquer parte do mundo. Somos ainda o 6º país em termos de segurança no índice a nível mundial e falamos bem inglês. Atendendo ao que se tem vivido no mundo, “com todas as incertezas e os 8% de inflação” atingidos no país no final do ano passado, estas posições no ranking mostram como Portugal é considerado pelo mercado externo como uma boa hipótese de investimento.
Para Miguel Farinha, que falou sobre o Investimento estrangeiro em Portugal, há três fatores diferenciadores que tornam o país atrativo: um forte clima de estabilidade social, uma elevada qualidade de vida – apesar do trade off salarial (ou seja, ganha-se menos) – e a existência de talento cada vez mais adaptado às necessidades do investimento.
Há contudo, um tema claríssimo a melhorar: a estabilidade fiscal. “O sistema fiscal tem de ser estável e contínuo, não podemos estar à espera que alguém venha investir em Portugal sem saber o que vai acontecer daqui a 3, 4, 5 anos”, realçou Miguel Farinha.
Em 2021, “o pais registou cerca de 200 projetos de investimento direto estrangeiro”, o que consubstancia um crescimento de 30%. Alemanha e França foram os principais protagonistas deste investimento. Muitos dos negócios fizeram-se devido à economia digital, setor em que Portugal tem estado a posicionar-se. Mas as energias renováveis também começam a despertar interesse.
O facto de as universidades estarem a formar cada vez mais talento e a situarem-se cada vez mais próximas do tecido empresarial é um fator positivo, mas, no entanto, ainda “há espaço para melhorar” no que toca a fomentar a proximidade entre empresas e meio académico.
O responsável da EY destacou ainda alguns dos grandes negócios realizados em Portugal: “Até novembro de 2022, Portugal teve um total de 11 mil milhões de transações, com destaque para o imobiliário”. Seguiram-se as transações no setor das tecnologias de informação, que “tem crescido continuamente”, com americanos, franceses e alemães a comprarem empresas portuguesas. Também o setor da energia se começa a destacar, nomeadamente com operações no hidrogénio.
Dicas e cenários para o futuro
Quanto tempo mais vamos viver num cenário de guerra é “a preocupação dominante”, até porque causa várias disrupções nas cadeias de abastecimento, como nos custos da energia. Miguel Farinha realça ainda “a grande incógnita sobre o que vai acontecer à economia chinesa”, que “não está a conseguir lidar com a covid”, nem se sabe “como vai lidar com as questões inflacionistas”.
Por outro lado, “a globalização teve um travão enorme, todos querem trazer para dentro dos seus países uma serie de atividades e é importante perceber os impactos disto”. Ou seja, a autossuficiência económica está na ordem do dia.
Por último, “a instabilidade política na América latina também é um ponto relevante”, uma vez que “substitui a Ucrânia como grande fornecedor de cereais para o mundo” e tal “pode trazer fatores novos”.
E num contexto em que “as empresas vão viver num mundo de custos elevados”, Miguel Farinha deixou a dica para que se explorem “oportunidades em mercados amigáveis, mais pertos de nós e com quem temos boas relações”. “Em que mercados podemos confiar?” deverá ser a pergunta a colocar. “Como vamos viver com a subida das taxas de juro” será também, de acordo com o responsável da EY, um cenário a estudar.
Miguel Farinha realçou ainda a forma como as 500 MM “são o motor da economia portuguesa”, responsáveis por “139 mil milhões de volume de negócios, o que representa 34% do volume de negócios da economia portuguesa, 22% do peso do PIB e meio milhão de empregos”.