Com uma fortuna avaliada em 20,2 mil milhões de dólares, Mateschitz era, no dia da sua morte, a 71ª pessoa mais rica do planeta. Co-fundador e co-proprietário da Red Bull GmbH, fez fortuna com a bebida energética e com os vários negócios através dos quais fez a empresa ganhar asas. A companhia austríaca foi-se afirmando em vários desportos, desde a aviação ao automobilismo, sendo atualmente a equipa de Fórmula 1 uma das principais fontes de receita – e reconhecimento.
Dietrich Mateschitz começou a carreira como vendedor de bens de consumo na gigante Procter & Gamble, até que, na década de 1970, conheceu aquela que pode ser considerada a mãe da bebida energética Red Bull: a Krating Daeng, produzida pelo tailandês Chaleo Yoovidhya. Uma bebida energética que Mateschitz percebeu imediatamente que queria trazer para a Europa para conquistar o mundo.
Os empresários juntaram esforços e em 1984 nascia a Red Bull. Mateschitz detinha 49% da empresa.
Foram precisos três anos até que a bebida tivesse autorização para ser produzida e vendida na Europa e, posteriormente, a nível global. O efeito da quantidade de cafeína presente em cada lata, por exemplo, é uma das questões mais prementes levantadas pelas autoridades, mas os dois homens acabariam por conseguir cumprir todas as imposições e lançaram aquela que é uma das mais reconhecíveis lata de alumínio em qualquer prateleira de supermercado.
Desde cedo, Mateschitz começou a associar a Red Bull a desportos mais radicais – surf, deportos de inverno, ciclismo de montanha – com o famoso slogan ‘Red Bull dá-te asas’ a fazer história no marketing mundial. Sobretudo porque resulta em praticamente todas as línguas, o que não é coisa pouca.
Em 1995 a Red Bull adquiriu 60% da Sauber, tendo mantido a parceria com a equipa suíça durante 10 anos, tal como estabelecido contratualmente aquando do início das conversações. Uma década foi o suficiente para fazer da Red Bull uma marca sonante no mundo da Fórmula 1, sobretudo depois de garantir um quarto lugar no Mundial de Construtores, em 2001, quando a dupla Nick Heidfeld e Kimi Räikkönen representava a equipa.
Em 2004, e já com algumas desavenças no bolso – ligadas sobretudo à escolha dos pilotos que deviam ocupar os monolugares detidos pela equipa – a Red Bull compra a falida Jaguar, contrata Christian Horner, então na Fórmula 2, para o lugar de team principal e chama o engenheiro veterano Adrian Newey para o lugar diretor técnico da equipa – segundo a BBC, com um salário a rondar os 10 milhões de dólares.
Enquanto a empresa continuou a investir em outro tipo de desporto – comprou equipas de futebol em Salzburgo, Leipzig, Nova Iorque, Campinas e fundou uma no Gana, além de ter comprado uma equipa de hóquei no gelo de Munique – a Fórmula 1 gerava a receita e a publicidade que colocariam a marca num lugar cimeiro em termos mundiais. O génio de Newey, considerado um dos melhores engenheiros da Fórmula 1, combinado com o estilo agressivo de Horner, garantiram à Red Bull Racing Team o primeiro Campeonato de Construtores e o primeiro título para um piloto da casa, com Sebastian Vettel a sagrar-se campeão.
Depois de alguns anos a perder o campeonato para a Mercedes, Mateschitz ainda viveu o suficiente para ver Max Verstappen elevar o touro vermelho ao primeiro lugar do pódio duas vezes seguidas – no ano passado e há duas semanas, quando se sagrou bi-campeão em Suzuka. E no dia a seguir à sua morte, a equipa voltou a arrecadar o Campeonato de Construtores. Uma espécie de homenagem ao homem que fez os negócios e o desporto andarem sempre de mãos dadas.
No entretanto, a bebida energética continuou a ganhar adeptos: em 2021 foram vendidas cerca de 9,8 mil milhões de latas de Red Bull, o que garantiu à empresa receitas na ordem dos 8 mil milhões. Desde a morte do seu primeiro sócio e co-fundador da marca, em 2012, que o filho Chalerm Yoovidhya geria os 51% da Red Bull que lhe pertenciam. No entanto, sempre foi Mateschitz a cara do negócio – apesar do seu perfil profundamente discreto.
O empresário austríaco alocou parte da sua fortuna à regeneração da natureza na região de Styria, de onde era originário, e é também público o seu apoio às artes e ao artesanato locais. Criou ainda, com o bi-campeão de motocross Heinz Kinigadner, a ONG Wings for Life, que financia investigação sobre medula óssea. Não passou, ainda assim, ao lado de alguns escândalos: a Servus, estação de televisão austríaca que pertence à marca Red Bull, é conhecida pelas suas posições de direita conservadora e o empresário não poupou críticas à política de acolhimento de refugiados da então chanceler alemã Angela Merkel.
A notícia da sua morte foi recebida com particular pesar entre as equipas de Fórmula 1 que a Red Bull financia – a Red Bull Racing Team e a satélite Alpha Tauri – com integrantes das várias scuderias a salientar o papel que o empresário teve, não apenas no desporto motorizado, mas na vida daqueles com quem se cruzou.
Segundo os especialistas do setor, a equipa não deverá ressentir-se da ausência do grande entusiasta de Fórmula 1. Já o negócio das bebidas, há mais de 10 anos com a maioria do capital nas mãos da segunda-geração tailandesa, também deverá continuar a somar sucessos.