Há uma estrela em ascensão no mercado de obrigações sustentáveis. A emissão de obrigações indexadas a critérios de sustentabilidade (sustainability-linked bonds) cresceu 900% em 2021 e prepara-se para duplicar de volume em 2022. Portugal já conta com uma emissão, num mercado que Andreas Hoepner, cientista de dados financeiros da Universidade de Dublin, não tem dúvidas em afirmar ser “o futuro das obrigações sustentáveis”.
Até ao final de 2020, haviam sido emitidos oito títulos de dívida indexados a critérios de sustentabilidade, num total de $9 mil milhões. O formato foi criado pela elétrica italiana Enel, com uma emissão de $1,5 mil milhões em 2019, a que seguiram empresas como a Novartis, Chanel, Repsol ou, mais recentemente, o próprio Estado mexicano. Em 2021, os especialistas das principais casas de investimento globais estimavam que o mercado atingisse os $30 mil milhões. Atingiu os $90 mil milhões e os mesmos especialistas acreditam agora que ultrapasse os $200 mil milhões em 2022, representando entre 20% a 25% do mercado total de obrigações sustentáveis, que inclui ainda títulos verdes (green bonds) e ligados a critérios sociais (social bonds).
Mas afinal que títulos são estes e em que diferem dos restantes? Enquanto uma ‘green bond’ permite levantar dinheiro no mercado para financiar um projeto com impacto ambiental positivo, uma obrigação indexada faz exatamente o mesmo, mas com uma penalização associada, o que atesta o compromisso da empresa. Estas obrigações estão indexadas a metas futuras de sustentabilidade, mensuráveis e com prazo definido, e o custo do financiamento (taxa de cupão) está vinculado ao cumprimento dos objetivos estabelecidos. Ou seja, se a empresa não cumprir, os juros sobem. “Até 2030, o emitente compromete-se a reduzir em 20% a produção de resíduos e em 40% a emissão de CO2. Caso não cumpra, fica sujeito a uma penalização, a qual pode ser legalmente acionável”, exemplifica Andreas Hoepner. O especialista, que falava esta semana na conferência anual da CMVM, dedicada ao Investimento num Futuro Sustentável, salientava o perfil “customizável” destes instrumentos, os quais podem ser facilmente adaptados para cumprir as “preferências de sustentabilidade dos investidores”.
De acordo com a informação reunida pelo cientista de dados da Universidade de Dublin, a larga maioria destas emissões está vinculada ao 13º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, sobre ação climática, seguido por ações de energia limpa e a preços acessíveis, e inovação industrial e infraestruturas. No top 5 dos países com maior número de emissões de obrigações indexadas a critérios de sustentabilidade surgem Itália, França, China, Reino Unido e Brasil. Portugal ocupa a 40ª posição do ranking, com apenas uma emissão, protagonizada pela Sonae Sierra, que lançou este ano uma linha, no valor de €50 milhões, em obrigações indexadas a objetivos de sustentabilidade, nomeadamente às emissões de CO2 e às taxas de reciclagem dos centros comerciais geridos e detidos pela empresa.
No mais recente relatório de obrigações sustentáveis do Environmental Finance, Agnes Gourc, responsável pela área de mercados financeiros sustentáveis do BNP Paribas, afirmava o “grande interesse das empresas por títulos indexados à sustentabilidade, tanto nos segmentos de ‘investment grade’ [dívida com melhor notação de risco] como ‘high yield’ [dívida empresarial com maior risco]. É justo dizer que, no ano passado, a maioria das obrigações sustentáveis ‘high yield’ foram emitidas neste formato, com indexação a objetivos. Acreditamos que este segmento continue a crescer”.