Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro, os estados-membros da UE já transferiram para Moscovo mais de 20 mil milhões de euros como moeda de pagamento pelos fornecimentos de petróleo, segundo estimativas do Centre for Research on Energy and Clean Air. Esse dinheiro tem permitido a Putin financiar a sua máquina de guerra e defender a economia russa das sanções que já foram impostas pelo Ocidente nas últimas semanas. Após ter proposto um embargo ao carvão russo – que conta para pouco nas contas de Moscovo – a União Europeia quer agora avançar com o fim das importações de petróleo da Rússia. Mas de uma forma gradual.
A presidente da Comissão Europeia propôs esta quarta-feira no Parlamento Europeu a eliminação das compras de petróleo à Rússia nos próximos seis meses. Já as importações de produtos petrolíferos refinados russos deverão ser riscadas até final do ano. “Vamos ser claros: não será fácil”, afirmou Ursula von der Leyen no seu discurso. “Mas simplesmente temos de trabalhar nisto e propomos agora um embargo ao petróleo russo”, acrescentou.
Este embargo tem suscitado reservas de alguns estados-membros. A Alemanha, por exemplo, apenas recentemente deu luz verde a esta medida, devido aos receios do impacto do corte do petróleo russo na economia. Já a Hungria tem-se oposto de forma firme a um embargo. Antes do anúncio desta medida, algumas notícias das agências internacionais davam conta de que poderia haver alguns países com um prazo maior para cortar totalmente com o petróleo russo. Mas von der Leyen não mencionou essas isenções no discurso desta quarta-feira.
A presidente da Comissão detalhou que “este será um embargo completo às importações de petróleo russo, transportado através do mar ou de oleoduto, crude e refinado”. E garante que serão feitos esforços para que o fim das compras de petróleo russo seja feito de “forma ordeira e de uma forma que nos permita e aos nossos parceiros assegurar rotas de abastecimento alternativas e minimizar o impacto nos mercados globais”. É por isso, explicou, que as importações vindas da russa deverão ser terminadas num prazo de seis meses e até final do ano para o caso dos produtos refinados.
“Assim, maximizamos a pressão sobre a Rússia, enquanto minimizamos ao mesmo tempo os nossos danos colaterais e dos nossos parceiros. Porque para ajudar a Ucrânia, a nossa economia tem de continuar forte”, afirmou a presidente da Comissão Europeia.
O embargo ao petróleo russo faz parte das propostas do sexto pacote de sanções da UE à Rússia. Além do fim das importações desta matéria-prima, Ursula von der Leyen anunciou também que se iria avançar com a retirada do Sberbank – o maior banco russo – do sistema SWIFT e que se iria impedir que as empresas de consultoria possam oferecer serviços a entidades russas. “O Kremlin conta com consultores e spin-doctors da Europa. Isso acaba agora”, disse a presidente da Comissão. Além disso, serão aplicadas sanções a militares que estiveram envolvidos nos crimes de guerra de Bucha e no cerco “desumano” a Mariupol.
Já as compras de gás natural à Rússia – que renderam a Moscovo mais de 30 mil milhões de euros desde 24 de fevereiro – continuam intocadas. A Comissão Europeia não anunciou nenhuma restrição às compras dessa matéria-prima que é a joia da coroa do orçamento de Moscovo.
Petróleo sobe 3%
Os analistas e economistas de bancos de investimento e entidades oficiais tinham vindo a alertar que um embargo total ao petróleo russo levaria a uma subida sem precedentes nos preços do ouro negro. Após o anúncio de Ursula von der Leyen, o preço do Brent aumentou mais de 3% para 108,29 dólares. Apesar de ser um valor historicamente alto, está abaixo dos máximos registados desde o início da invasão à Ucrânia, já que o petróleo chegou a superar a fasquia de 120 dólares.
A cotação atual também está longe de algumas estimativas que têm sido feitas para um cenário de embargo imediato. O banco central alemão, por exemplo, referia em abril que um embargo à energia russa por parte de um dos principais compradores poderia levar a subidas do valor do barril de brent para cerca de 170 dólares. Já o JPMorgan previa uma cotação de 185 dólares, no caso de um embargo imediato ao petróleo russo. Estas projeções – que a confirmarem-se causaria problemas para a economia mundial – podem ajudar a explicar a cautela da UE que optou por um embargo faseado em vez de um corte total e imediato.
O reverso da moeda é que ao mesmo tempo que a UE compra tempo para encontrar alternativas ao petróleo russo, dá também margem à Rússia para encontrar outros destinos para os seus produtos petrolíferos. Além disso, com um embargo gradual esta fonte de receitas do regime de Putin dificilmente secará de forma imediata, podendo dar espaço para Moscovo encontrar formas de atenuar o impacto económico e financeiro desse boicote.