Foi o ano da vacinação e da retoma, mas também do regresso da inflação e da crise logística e do transporte marítimo. 2021 trouxe desenvolvimentos políticos importantes – tributação de multinacionais, emissão de dívida comum na UE – e possíveis viragens na governação de Portugal, com o chumbo do OE 2022 e o fim – provisório ou não – da aliança à esquerda. Os próximos 18 gráficos tentam resumir os últimos 12 meses da economia nacional.
Muitos destes gráficos começam bem antes de 2021 para se perceber quão dramático foi o choque da pandemia e quão forte está a ser (ou não) a recuperação. Nalguns casos, permitem também ver como certos setores e indicadores se aguentaram melhor do que seria de esperar.
Após um 2020 desastroso, a economia nacional começou a recuperar em 2021, com um salto significativo no segundo trimestre do ano. O verão ainda trouxe um crescimento robusto que se espera que continue ao longo dos próximos meses. No entanto, o PIB ainda não recuperou das perdas pandémicas.
Grande parte da variação observada em cima no PIB é explicada pela flutuação do consumo das famílias que, depois de cair durante quatro trimestres consecutivos, voltou ao crescimento nos últimos seis meses para os quais há dados.
O investimento tem menos peso na economia nacional e teve uma evolução menos dramática. Embora também tenha atingido valores negativos no arranque da pandemia, o indicador regressou mais rapidamente ao verde. O motivo? A linha azul nesse gráfico. Cerca de metade do investimento em Portugal vem de construção, um setor que quase não parou durante a crise. Desde março de 2020, nunca teve um trimestre negativo, o que permitiu segurar a totalidade do investimento na economia.
Numa outra lógica, em baixo podemos observar a evolução de cada setor através da variação homóloga do seu valor acrescentado bruto (VAB). Além de se perceber, como já tínhamos referido, que a construção se aguentou melhor do que outros, este indicador permite também ver o absoluto colapso do comércio e da hotelaria e restauração.
Um dos desenvolvimentos mais surpreendentes da economia portuguesa durante a pandemia foi o comportamento do mercado de trabalho. Após uma subida nos primeiros meses após a explosão do coronavírus (superando os 8%), a taxa de desemprego começou a recuar até ao nível em que estava antes da crise e até abaixo disso. Na crise anterior, ela chegou a tocar nos 18% e demorou anos a voltar a um só dígito. A população empregada está hoje também em máximos históricos.
A remuneração bruta por trabalhador tem uma evolução irregular e sazonal. Estava nos 1300 euros no trimestre terminado em setembro de 2021, segundo os dados da Segurança Social e da CGA. O seu crescimento tem acelerado desde 2016, numa altura em que rondava apenas 1%. A pandemia não mudou muito essa trajetória, até porque grande parte da destruição de postos de trabalho ocorreu entre grupos mais precários e com salários mais baixos (o que ajuda este indicador). Há também notícias de falta de mão-de-obra em certos setores, o que pode puxar pelos ordenados. O gráfico mostra a variação homóloga das remunerações.
Foi o indicador mais debatido ao longo do último ano. A inflação voltou ao centro da discussão económica. Não tanto pela sua evolução em Portugal, onde só superou os 2% no último mês, mas porque está muito perto dos 5% na totalidade da zona euro. Nos Estados Unidos, já se aproxima dos 7%. Além das consequências para as famílias e as empresas, esta subida deixa em aberto a possibilidade de terem de ser interrompidos estímulos orçamentais e monetários mais cedo do que se pensava e, provavelmente, subir juros. Ambos podem prejudicar a retoma. Será provavelmente o indicador mais importante para perceber o rumo da economia em 2022.
Nem todos os preços se comportaram da mesma forma em Portugal. Os gráficos em baixo mostram como a alimentação e as bebidas tiveram uma evolução relativamente regular, o que contrasta com os altos e baixos do vestuário e calçado e com a escalada dos preços relacionados com habitação, eletricidade e gás.
Numa continuação da lógica de cima, este gráfico conta também a história dos diferentes setores económicos, da forte subida do preço dos transportes (onde estão incluídos os combustíveis) ao colapso e posterior recuperação da hotelaria e da restauração.
O Índice de preços da habitação do INE manteve sempre uma variação positiva durante a crise, mas teve no arranque de 2021 o seu crescimento homólogo mais baixo desde 2015, pouco acima de 5%. O indicador recuperaria ao longo do ano, voltando sensivelmente ao nível pré-crise no terceiro trimestre. Muito provavelmente será bastante influenciado por qualquer mexida nos juros que ocorra em 2022.
Há duas histórias diferentes para contar no comércio internacional. A venda de mercadorias ao exterior foi penalizada logo no arranque da pandemia, mas começou a recuperar quase imediatamente após o embate inicial. Já as exportações de serviços – onde está o turismo – demorou bastante mais, acumulando contrações superiores a 30% durante 12 meses. Ambos tiveram um 2021 positivo. No caso dos serviços, isso aconteceu após um primeiro trimestre ainda sofrível, mas com uma primavera e verão com crescimentos fortes. Sendo muito dependente do turismo, a economia portuguesa só conseguirá verdadeiramente recuperar se as suas exportações de serviços mantiverem esta dinâmica.
Do lado das mercadorias, foi um ano de variações fortes em todas as categorias, mas destaca-se o salto dado pelo material de transporte em abril, muito influenciados por estarem a comparar com um mês de 2020 em que a pandemia afetou muito estas vendas.
Do lado dos serviços, as dormidas em estabelecimentos turísticos também tiveram uma forte recuperação. O gráfico mostra mais do que 2021 para perceber como comparam estes valores com o histórico recente do país. Ele mostra um enorme vale em 2020, correspondente aos meses em que os hotéis estiveram quase às moscas, seguindo-se uma recuperação ao longo do último ano. Ainda assim, longe dos níveis de 2019.
No início da pandemia, em 2020, observámos movimentos inesperados no preço do petróleo, tendo chegado a terreno negativo, devido à falta de procura. Isso nunca chegou a acontecer com o Brent (mais relevante para Portugal), mas que, como se pode ver no gráfico, também afundou até à casa dos 20 dólares por barril. 2021 trouxe uma história diferente: uma forte escalada que chegou aos 85 dólares e que só recentemente acalmou. Este aumento reflete-se nos mais variados preços na economia, a começar obviamente pelos combustíveis.
Do lado dos juros da dívida portuguesa, foi mais um ano relativamente calmo. Aquilo que parecia um milagre tornou-se a regra – yields perto de zero -, muito influenciado pelo programa de compras do Banco Central Europeu, mas também pelo ambiente macroeconómico e relativa confiança no país. O próximo ano pode trazer muito mais novidades neste campo, com o anúncio de redução de atividade do BCE. Além disso, se a inflação se mantiver alta e for acompanhada por subidas de juros, isso também motivará mais pressão sobre os custos de financiamento portugueses. Por último, se as eleições de 30 de janeiro inaugurarem um ciclo de instabilidade política e incerteza governativa, os mercados poderão também começar a reagir. Em baixo, as yields das obrigações portuguesas a dez anos.
A longa recuperação do défice orçamental, iniciada ainda durante o governo PSD/CDS até ao excedente de 2019 de Centeno, sofreu um enorme retrocesso com a pandemia, devido a um grande aumento de gastos com apoios sociais e perda de receita de impostos. 2021 trouxe uma recuperação do indicador de equilíbrio das contas públicas. Se isolarmos apenas o terceiro trimestre do ano, elas já foram superavitárias. O ministro das Finanças já anunciou que o défice pode (mais uma vez) fechar o ano abaixo da meta orçamentada pelo governo, de 4,3% do PIB.
Provavelmente o indicador mais negativo de 2021. A barra que se destaca no gráfico em baixo refere-se a janeiro, quando a pandemia se descontrolou após as festas de Natal e ano novo (e a chegada de uma nova variante, a Delta). As boas notícias é que, no final deste ano, o aumento dos contágios não está a ter o mesmo reflexo em hospitalizações e mortes, devido à proteção conseguida com a vacinação e aquilo que parece ser uma variante mais contagiosa, mas menos letal.
Por último, e relacionado com o gráfico anterior, algo que não esperaríamos ver: uma quebra da esperança média de vida, que se irá refletir numa descida da idade da reforma. A associação da idade da reforma à esperança de vida fez com que, à medida que os portugueses vivem mais anos, tenham de se reformar mais tarde. Agora, a pandemia inverteu (temporariamente) esse ciclo. A mortalidade que provocou, levou ao maior recuo da esperança média de vida desde 1982, caindo quatro meses nos três anos terminados em 2021. Como é esse o valor que serve de referência ao cálculo da idade da reforma para 2023, ele implica uma descida da mesma para os 66 anos e quatro meses. É expectável que isto se volte a verificar em 2024, uma vez que o cálculo é feito em conjuntos de três anos.