Depois da queda súbita no consumo durante os meses de confinamento, as compras com recurso a cartão estão a recuperar o que indicia alguma retoma do consumo. Em setembro, a quebra face ao mesmo mês do ano anterior foi mais moderada em relação ao resto do ano. A descida foi de 9%, o que compara com um decréscimo de 20% nos primeiros nove meses de 2020 face ao mesmo período de 2019, segundo um estudo da REDUNIQ, a maior rede nacional de aceitação de cartões nacionais e estrangeiros. Aliás, em agosto e setembro, a faturação com origem em residentes já superou ligeiramente a que se verificava antes da pandemia. Já o volume vindo de estrangeiros continua a registar tombos significativos.
No relatório, a empresa explica esta retoma da faturação com o impulso do turismo interno e a chegada da rentrée, caracterizada pelo aumento dos fluxos de mobilidade – quer pelo regresso às aulas ou pelo regresso ao trabalho. Apesar desta recuperação, o diretor da REDUNIQ, Tiago Oom, realça, num comunicado, que “estes números não poderem ser assumidos como indicadores seguros de que esta tendência de recuperação irá prevalecer. Isto porque, por um lado, é expectável que o agravar da crise sanitária volte a condicionar os comportamentos de consumo dos portugueses, e, por outro lado, importa atentar ao adensar dos impactos de uma crise económica anunciada”.
Apesar da queda acentuada do consumo, houve três setores em que se assistiu a um aumento das transações. Sem grandes surpresas, a faturação verificada no sistema REDUNIQ aumentou 45% nas farmácias e 31% no retalho alimentar tradicional. Mas também as compras de eletrodomésticos e tecnologia aumentaram, com a faturação a subir 7%. Mas há áreas que não escaparam a quebras significativas. Na hotelaria a redução foi de 64%, em bens de moda a quebra atinge 37% e nas perfumarias a faturação caiu 35%.
Consumo estrangeiro seca, mas o dos portugueses já supera período pré-Covid
Dadas as restrições provocadas pela pandemia não é de estranhar que o peso dos estrangeiros no total da faturação tenha caído a pique. “A faturação estrangeira ainda apresenta quebras de aproximadamente 50%”, revela o estudo. Já a evolução do consumo dos portugueses aparenta ser mais surpreendente. “De forma impressionante, agosto e setembro, evidenciam consumos de portugueses acima do homólogo de 2019”, detalha o estudo. Em agosto, houve uma subida de 1% face ao mesmo mês de 2019 na faturação proveniente de residentes, segundo a REDUNIQ. E em setembro a subida homóloga foi de 4%. Parte da explicação, segundo o relatório, é o “efeito de ‘férias passadas em Portugal’”.
Em agosto houve uma subida de 1% na faturação proveniente de residentes e em setembro o aumento foi de 4%
O relatório indica que em junho, julho e agosto, houve menos um milhão de viagens de avião de portugueses, que terão, assim, “consumido em Portugal”. No entanto, o estudo realça que “a análise destes números deve ter em perspetiva o facto de 2020 estar a ser pautado por um impressionante crescimento do uso de contactless no que, em parte, pode estar a configurar uma transferência de pagamentos em dinheiro vivo – notas e moedas – para o sistema REDUNIQ. Neste contexto, parte da recuperação da faturação e do número de transações pode ser explicada por este fenómeno de desmaterialização de pagamentos”.
Os distritos onde se verificam maiores quebras na faturação continuam a ser os que estão mais dependentes do turismo, “nomeadamente Lisboa, Faro, Porto e os arquipélagos dos Açores e da Madeira”, indica a REDUNIQ. Mas os últimos meses permitiram reduzir parte dos estragos. Até à entrada dos meses de verão, aqueles distritos apresentavam descidas na faturação acima de 30%. “As quebras reduziram -se para sensivelmente metade, situando-se, à entrada de setembro, em valores entre os 15% e os 20%”, revela o estudo. Já “na quase globalidade dos demais distritos as variações observadas em setembro de 2020 face ao homólogo de 2019 são já inferiores a 10%, em vários casos, até, inferiores a 5%”.