O presidente do Novo Banco juntou hoje toda a administração numa conferência de imprensa tornada sessão de esclarecimento para explicar o trabalho realizado desde a compra do banco pelo Lone Star e garantir que todas as operações de venda de ativos foram feitas de forma “transparente, internacional e organizada.” E defendeu-se das críticas feitas nos últimos meses pela “comunicação social, comentadores e alguns políticos” recorrendo a uma metáfora: “Cada membro desta administração aceitou um dia ser chamado como bombeiro para apagar um fogo que lavrava de forma extraordinariamente alta e perigosa. Custa-me que se esqueçam disso para verificar qual é a conta da água. Sobretudo porque sabemos que foi fogo posto,” disse aos jornalistas.
Dois dias depois de ter sido entregue a auditoria especializada feita pela Deloitte ao Novo Banco, que contabilizou perdas de 4.042 milhões de euros de 2014 e até ao final de 2018 por 293 operações geradas a partir de 2000, o presidente do banco recusou entrar em pormenores sobre o documento, que também recebeu na segunda-feira e sobre o qual está a trabalhar com o Banco de Portugal para selecionar as partes que poderão ser divulgadas. Mas voltou a rejeitar responsabilidades nesses prejuízos: “Mais de 95% das perdas são por ativos originados antes de 2014. Não há um único novo crédito que tenha sido concedido posteriormente à resolução,” garantiu, numa referência às administrações do Banco Espírito Santo (BES), anteriores à criação do Novo Banco.
Com as operações de venda de ativos sob escrutínio apertado nas últimas semanas (em particular a da seguradora GNB Vida, vendida à Apax), o responsável assegurou que as regras do contrato feito com a Lone Star, acionista privado do banco, impedem-na, e a qualquer parte com ela relacionada, de fazer qualquer transação com o banco. E defendeu-se ainda das críticas sobre a realização de operações a desconto – que negou – ou que geraram perdas.
“O Novo Banco não vende porque quer. Vende porque deve. Teve os melhores advisers, as vendas não foram realizadas debaixo da mesa, mas por concurso internacional, transparente e organizado. E teve de ser autorizado pelo Fundo de Resolução. Em todos estes casos há elevadíssimo nível de escrutínio,” assegurou, recusando depois esclarecer se o banco recorrerá este ano aos 906 milhões de euros de capital contingente que ainda tem disponíveis junto daquele fundo para compensar perdas.
Sem se querer alongar sobre as conclusões da auditoria – que, garantiu, não traz factos “emocionantes” sobre a gestão do banco nem especiais recomendações sobre a relação da instituição com o Fundo de Resolução, com o qual assumiu “divergências e convergências” -, António Ramalho disse no entanto que as perdas identificadas no relatório correspondem a 70% do total verificado no período analisado. E, apesar de não ter identificado quais as perdas líquidas geradas pelas 293 operações desde que tomou posse, não excluiu que algumas delas possam voltar a fazer mossa nas contas de 2020 e em diante: “Esperemos que não venham a gerar perdas adicionais,” desejou no entanto.
Reconhecendo não estar otimista em relação ao impacto económico da pandemia, o presidente do Novo Banco manifestou-se convicto de que é possível deixar o balanço do banco limpo até ao final deste ano e chegar a resultados positivos em 2021. E deixou a porta aberta para manter-se à frente da instituição num novo mandato – o atual termina no final deste ano. “A decisão que tomei nessa altura [2017, quando tomou posse] foi a de que vinha para ficar. Ficaremos e tenderemos a ficar até a reestruturação do banco estar concluída e até o trazermos ao que é a situação normal,” disse aos jornalistas.