Para fazer face à redução quase total da sua atividade, devido ao impacto dos efeitos da Covid-19, a TAP vai colocar 90% dos seus trabalhadores no regime de lay-off simplificado e reduzir em 20% o horário dos restantes, avançou esta terça-feira a companhia em comunicado enviado aos colaboradores. Os membros da administração vão, por seu lado, prescindir de 35% dos seus salários.
O recurso a este mecanismo de suspensão temporária de funções de colaboradores vai iniciar-se esta quinta-feira, com a duração de 30 dias, refere um outro comunicado da empresa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) divulgado nas últimas horas. Neste período, espera poupar 45% dos custos com pessoal. De acordo com as contas da empresa, no ano passado só o negócio aéreo (TAP S.A.) empregava 9.006 pessoas, que representaram custos de €626,5 milhões. Mantendo-se esses dados, quer dizer que poderão ficar temporariamente em casa pelo menos cerca de 8.000 colaboradores. O grupo todo, incluindo outras empresas, empregava quase 11.000 pessoas.
O lay-off já era esperado desde segunda-feira, dia em que a TAP transmitiu a intenção aos sindicatos. Nas últimas semanas a degradação das condições obrigou a transportadora a reduzir ainda mais as rotas (de 90 para 16), entrando em abril com uma nova redução de frequências. Até 4 de maio operará apenas cinco voos por semana em três ligações ativas – de Lisboa a Funchal, Ponta Delgada e Terceira. A manutenção dos restantes colaboradores (10%) em horário de trabalho reduzido é justificada por continuarem “a trabalhar para assegurar a retoma.”
A forte queda da procura no início de março (quebra de até 60% das reservas) e as proibições de viagens aéreas decretadas pelos países afetados pela Covid-19 (que nos EUA reduziu a capacidade operacional em 54%) já tinham levado a TAP a suspender e adiar de investimentos não críticos, a cortar despesas acessórias, renegociar contratos e de prazos de pagamento, antecipar crédito junto de fornecedores, além de suspender contratações de novos trabalhadores e implementar licenças sem vencimento temporárias.
O impacto que o novo coronavírus vier a causar nas contas da empresa em 2020 juntar-se-á a dois anos consecutivos de prejuízo, o último de €106 milhões, em 2019, justificado pelo investimento em novos aviões e constrangimentos operacionais no aeroporto da Portela. O Governo, que gere a posição maioritária do Estado na companhia (50%) tem deixado em aberto a possibilidade de apoiar a injeção de liquidez na empresa, medida que, a constituir ajuda de Estado, depende da luz verde de Bruxelas.
Esta terça-feira, em entrevista à TSF, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, não excluiu o cenário de nacionalização. “O Estado não deixará de usar todos os poderes ao seu dispor para salvaguardar a posição estratégica da TAP. (…) O Estado tem ferramentas para nacionalizar e usá-las-á se achar conveniente,” afirmou.
(notícia atualizada às 9:04 de 1 de abril, depois de comunicado da TAP à CMVM)