Esta quinta-feira foi uma das piores sessões de sempre para as bolsas mundiais. Os investidores pediam medidas por parte de governos e bancos centrais e estes tentaram responder. Mas os anúncios não foram suficientes para travar o pânico. O BCE, por exemplo, lançou um novo programa de empréstimos ilimitados e baratos para a banca, aliviou as exigências de capital das instituições financeiras e vai reforçar as compras de ativos. O objetivo é dar meios à banca para manter o financiamento à economia, em particular a empresas que estejam com dificuldades de tesouraria por causa do coronavírus.
No entanto, a própria presidente do BCE, Christine Lagarde, não mostrou muita confiança na capacidade do banco central em estancar a crise nos mercados financeiros. Contrariamente ao discurso de Mario Drahi no verão de 2012, em que o antigo presidente do banco central garantiu que se iria fazer tudo o que fosse necessário para salvar o euro (e que isso seria suficiente), Lagarde avisou que o BCE está não está em condições de ser a primeira linha de defesa da economia face aos danos do coronavírus. Apesar de garantir que utilizará todas as armas à sua disposição para apoiar a Zona Euro, indicou que aquela missão terá de ser desempenhada pelos governos instituições euroepias. “Tendo em conta as perspetivas mais fracas para o cenário económico e a materialização de riscos descendentes, é necessária agora uma política orçamental coordenada”, disse a presidente do BCE.
Os investidores habituaram-se na última década a que os bancos centrais conseguissem salvar os mercados financeiros. E não gostaram de ouvir a mensagem de Lagarde, por mais que os economistas concordem com o diagnóstico e medidas da presidente da autoridade monetária. A constatação de que os bancos centrais pouco mais podem disponibilizar do que alguns paliativos, conjugada com a ausência de uma resposta de estímulos orçamentais coordenada a nível global, instalou o pânico nas bolsas mundiais. Para piorar, os receios tinham já sido acentuados com o plano de Trump para combater a Covid-19.
Nesta quinta-feira negra, o Stoxx 600, que reúne as 600 maiores empresas da Europa, desabou 11%. As ações europeias perdem já quase 30% desde o início do ano, o que marcou o fim do período de expansão que traziam nos últimos anos. A bolsa portuguesa perdeu quase 10% e nos EUA as quedas são de cerca de 7% e a sessão foi interrompida várias vezes. Apesar de a Comissão Europeia e de alguns governos europeus terem já anunciado alguns pacotes de estímulo orçamental para mitigar os efeitos do coronavírus, os economistas e a própria Lagarde pedem mais ação.
Os analistas da gestora Fidelity referem que “ainda estamos à espera para ver uma pressão mais agressiva para uma flexibilização orçamental nos estados-membros”. E questionam “se esta não é a altura para quebrar as regras orçamentais e de se abrir a torneira, então quando será?”
Bazucas não são vacinas
A atuação conjunta de bancos centrais e governos pode ajudar a dar algum oxigénio às empresas e famílias para ajudar nas suas situações de tesouraria. Mas os economistas da Capital Economics sublinham que “o máximo que se pode atingir através da política económica é suavizar o impacto e prevenir que a desaceleração da economia se transforme numa crise no setor financeiro ou na dívida soberana”.
Já os analistas do ING reconhecem que as medidas anunciadas esta quinta-feira pelo BCE não são uma bazuca, o termo que se utiliza quando os bancos centrais tomam medidas radicais para inverter a falta de confiança dos agentes económicos. Mas, nesta fase, refere o ING numa nota, “é bastante questionável que uma grande bazuca fosse um ajuda. A única coisa que poderia estancar o medo, a incerteza e a turbulência seria uma vacina”.
Enquanto a ciência não encontra uma forma de travar a pandemia, os economistas pedem aos governos que se cheguem à frente e que, desta vez, sejam eles a terem um momento semelhante ao de Draghi em 2012. “Christine Lagarde não teve hoje o seu momento de tudo o que fosse necessário. Vamos esperar que os governos tenham o seu em breve”, concluem os economistas do ING.