Os receios em torno dos efeitos no novo coronavírus fizeram disparar o número de cancelamentos no alojamento local em Portugal nos últimos dias e provocou o congelamento das novas reservas, nomeadamente para março e abril.
A situação, que até ao final de fevereiro estava apenas circunscrita a viajantes oriundos da China e de Itália, generalizou-se entretanto, com as notícias de disseminação do vírus por vários países europeus. “O sentimento está a evoluir de forma muito rápida. Nos últimos cinco dias transformou-se numa situação devastadora,” descreve à EXAME Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP).
O responsável descreve que há proprietários e gestores de alojamento local que, além de não estarem a receber novas reservas, estão diariamente a gerir desistências em função das políticas de cancelamento das plataformas eletrónicas, como a Booking ou a Airbnb por exemplo. “Estamos a tentar prolongar, adiar e negociar [reservas] até ao final do mês.” Além dos centros urbanos de Lisboa e Porto, que têm em março um mês forte, também as regiões de praia e veraneio, como o Algarve, já têm sentido o recuo nas novas reservas, pelo menos até meio do ano.
“Apanhou as empresas no pior mês, no final do inverno. Março é um mês de muito negócio, de recuperação nas zonas urbanas,” descreve o responsável, que diz no entanto ser ainda “cedo” para falar em taxas de desistências. Apesar dos danos já provocados, Eduardo Miranda espera que, num cenário favorável, ainda haja alguma margem de manobra para recuperar reservas relativas a maio e junho.
O presidente da ALEP pede ainda medidas específicas de apoio que contemplem o alojamento local, nomeadamente a criação de microlinhas de crédito dirigidas ao setor. “A linha de tesouraria [lançada pelo Governo, no valor de €200 milhões] está desenhada para empresas e não leva em conta os empresários em nome individual, que são a maioria do alojamento local,” justifica. “Se não for pensada uma solução, isso significa derrubar uma parte importante deste setor,” acrescenta, sustentando que o alojamento local representa mais de metade da capacidade de alojamento em Lisboa e Porto e um terço do país.