A compra de 12,68% do grupo de aviação Air France-KLM pelo Estado holandês, concretizada nas últimas horas por €680 milhões, está a causar incómodo junto do governo francês por não ter sido previamente comunicada a Paris.
O executivo holandês terá adquirido a participação sem conhecimento do contraparte francês e só informou o governo de Emmanuel Macron esta terça-feira à noite, uma hora antes da conferência de imprensa destinada a anunciar o negócio, refere a BBC.
“Com esta compra, o governo quer poder ter influência direta no desenvolvimento futuro da Air France-KLM para garantir o interesse público holandês,” justificou o ministro holandês das Finanças, Wopke Hoekstra. “A aquisição desta participação garante que temos um lugar à mesa.” Entre os interesses a proteger está a manutenção do aeroporto de Schiphol, em Amesterdão, como importante hub para o grupo, já que Haia teme que a prazo possa haver desvio de voos da KLM para aeroportos franceses.
Ao holandês De Telegraaf, uma fonte do ministério das Finanças francês considerou a aquisição “incompreensível e má para o valor da empresa.” “Parece mais um roubo do que uma participação estatal,” acrescentou a mesma fonte. A imprensa francesa acompanha a indignação oficial e fala em “golpe de teatro” e “declaração de guerra”.
O objetivo do governo holandês, que tem 6% da filial KLM, é atingir, a prazo, uma participação semelhante à do Estado francês – 14,3% – no grupo criado em 2004 por fusão das duas companhias. Apesar dessa operação, ambas as empresas operaram com grande autonomia ao longo dos últimos anos, nota a imprensa francesa.
“Cabe agora ao governo holandês clarificar as suas intenções neste negócio,” disse o Presidente francês esta quarta-feira. “Por isso o ministro da Economia e das Finanças convidou o seu homólogo holandês a vir a Paris para poder explicá-las”. O acordo deverá acontecer esta sexta-feira.
Na sequência da entrada do Estado holandês no capital do grupo de aviação as ações da Air France-KLM chegaram a cair quase 15% em bolsa. Na semana passada o grupo apresentou contas de 2018, ano em que os lucros mais do que duplicaram para €409 milhões.
Numa nota, os analistas do Société Générale consideraram que a operação pode ter efeitos positivos na concorrência entre as duas filiais do grupo, aumentando a pressão para que a Air France melhore a sua rentabilidade, “mas pode conduzir a uma escalada de tensões, tornando a empresa ainda mais politizada.”
Além dos Estados francês e holandês, a estrutura de capital do grupo Air France – KLM tem ainda entre os seus acionistas a Delta Airlines e a China Eastern Airlines, ambas com 8,8%, além dos trabalhadores (3,9%).