Chama-se Nuno Jorge Sebastião, nasceu em Cantanhede há 39 anos e há oito fundou a Feedzai, uma empresa que monitoriza e deteta fraudes em pagamentos e transações bancárias e que, apesar de ter mantido a sede fiscal em Coimbra, tem o seu centro nevrálgico em São Francisco, nos EUA, paredes-meias com outras tecnológicas, como a Oracle. Foi ele o vencedor do prémio 40 Líderes Empresariais do Futuro, entregue quarta-feira, uma iniciativa da revista “Exame” e do Fórum de Administradores e Gestores de Empresas (FAE) que tinha como objetivo distinguir os 40 melhores líderes portugueses com menos de 40 anos. Em segundo lugar ficou Frederico Brito e Abreu, 39 anos, e vice-presidente da Kroton Educacional, a maior empresa de educação do mundo com mais de um milhão de alunos e sediada no Brasil, onde Frederico vive há 10 anos. Além de Portugal, é o país onde está mais tempo, já que, ao longo de 15 anos estudou e trabalhou em oito cidades, como Singapura, Nova Iorque ou Paris.
Ambos aterraram no país na quarta-feira, de propósito para a entrega dos prémios, que decorreu no Pestana Pousada de Lisboa e contou com os 40 nomeados, o júri e ainda o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral. Na manhã seguinte, tanto Nuno como Frederico voavam de regresso às suas empresas e a casa. É o preço a pagar para se ser um líder e ter empresas de sucesso, disse Nuno Sebastião, meio a sério meio a brincar, em conversa com o Expresso. O engenheiro informático e agora gestor admite que “não é fácil”. “Não somos ninguém ao pé daquelas empresas todas e os EUA são um mercado mesmo muito competitivo, mas sabemos que a oportunidade está lá, alguém a vai apanhar, e quero mesmo ser eu”, disse.
Esta determinação e a qualidade técnica, tanto sua como das pessoas que escolhe para a empresa, terão sido algumas da razões porque foi eleito o melhor entre os 40 melhores líderes de Portugal. Mas também terá ajudado a naturalidade com que encara o mundo dos negócios. Na cerimónia desta quarta-feira, destacou-se dos engravatados por vestir calças de ganga escura e ténis, t-shirt e blazer pretos. E por, tal como faz com toda a gente, tratar o ministro da Economia por tu quando o entrevistou após a entrega dos prémios aos 10 primeiros. Um momento diferente que serviu de alternativa aos habituais discursos no final das cerimónias.
Atrair investimento
“Portugal está na moda e percebo isso também junto dos meus clientes. Como podemos manter isso?”, perguntou Nuno Sebastião a Caldeira Cabral. “É bom estar na moda e é bom que Portugal seja olhado de forma diferente, mas não nos devemos encher disso. É preciso trabalhar mais”, disse o ministro. Para Caldeira Cabral, é preciso continuar a atrair investimento e que as empresas continuem a investir em inovação e em recursos humanos, muitos deles jovens altamente qualificados que estão lá fora e até querem regressar a Portugal. Porque, disse, essas novas gerações têm dado provas de que são altamente qualificadas e de que podem ser cruciais para ajudar o país a crescer. (Leia o resto da entrevista na íntegra na próxima semana).
Posições de topo e liderança
“Estes 40 líderes com menos de 40 anos mostram bem o que estas pessoas são capazes. São pessoas que, com menos de 40, já estão em posições de topo e de liderança, que já fundaram empresas, algumas que valem dezenas de milhões, já estão a exportar e a trabalhar para os mercados globais, e são pessoas com imenso mérito”, acrescentou Caldeira Cabral, em conversa com o Expresso.
De facto, na lista dos 40 destacados há líderes com vários tipos de formação, não só gestão ou engenharia, que vêm de uma enorme variedade de empresas, desde startups a multinacionais de renome internacional. Só faltou mesmo uma maior participação de grandes empresas portuguesas, algo que a organização quer afinar para o ano, quando lançar a segunda edição. Em contrapartida, as empresas que participaram são de áreas tão diferentes como a energia, a banca, agricultura ou organização de eventos. É o caso de Diogo Assis, que ficou em terceiro lugar. Tem 40 anos e é o fundador e CEO da Events by TLC, uma empresa de organização de eventos criada em 2002 que hoje tem 150 funcionários em sete escritórios em quatro países e gera um volume de negócios de 40 milhões de euros. Ou de Pedro Silva Dias, que ficou em quinto lugar. Tem 39 anos e é presidente da Agência para a Modernização Administrativa (AMA), a única organização do Estado que figura na lista.
“Tenho sempre de dizer o nome todo porque a sigla às vezes confunde. E até o nome é grande, mas se disser que é a empresa que, entre outras coisas, gere a rede das lojas do cidadão toda a gente percebe a importância”, referiu em conversa durante o jantar.
“Mas além destes 40 há mais 400 ou mais quatro mil, quer em Portugal quer lá fora, que afirmam uma geração de portugueses que está ao nível do melhor que há no mundo”, acrescentou o ministro, deixando um alerta. “Ou Portugal aproveita esta geração e a integra bem no mercado de trabalho, na sociedade e nas empresas e assim dá um salto de produtividade e desenvolvimento ou então vai deixar fugir estas pessoas, como aconteceu nos anos antes do ajustamento, e vai perder a oportunidade de crescer”, disse ainda Manuel Caldeira Cabral.
Os Eleitos
1 – Nuno Sebastião Diretor, Feedzail
2 – Frederico Brito
e Abreu Diretor,
Kroton Educacional
3 – Diogo Assis Fundador e CEO, Events by TLC
4 – Mauro Xavier
Diretor, Microsoft
5 – Pedro Silva Dias Administrador, Agência para a Modernização Administrativa
6 – Miguel Pina Martins Administrador, Science4you
7 – Emanuel Proença Administrador,
Prio Supply, S.A.
8 – João Miguel Alves Dias Diretor, Piedade, Sa
9 – Verónica Soares Franco Conselho de Administração, Via Porto
10 – João Sebastian Diretor, Apple
11 – Nuno Oliveira Santos Administrador,
Gfi Portugal
12 – Miguel Fonseca Diretor, McKinsey & Co
13 – Nuno Sobral Correia Administrador, Prio Biocombustíveis, S.A.
14 – Diogo Neves de Carvalho Diretor, KPMG
15 – David Santo Fundador e CEO,
LITS ebusiness
16 – Marco Ribeiro Costa Administrador, Talkdesk
17 – Pedro Santos
Lopes Diretor, Worten/Sonae SR
18 – Pedro Nazareth Diretor, Amb3E
19 – José Miguel Marto Administrador, Hotel Marquês de Pombal
e Hotel Roma
20 – Ricardo Santos Sousa Diretor, Century 21 Espanha e Portugal
21 – Luís Pedro Martins Administrador, Zaask
22 – Raquel Castelo Branco Diretora,
Sogrape SGPS
23 – Duarte Líbano Monteiro Diretor, Ebury
24 – Francisco Matos Diretor, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
25 – Pedro Miguel Teixeira Diretor,
Bureau Veritas
26 – André Cardoso Administrador,
Fidelidade Seguros S.A.
27 – Ana Sofia Barbosa Diretora, Fujitsu Technology Solutions
28 – Nuno Carvalho Administrador,
A Padaria Portuguesa
29 – Nuno Brito Jorge
Co-fundador
e Diretor, GoParity
30 – Bruno Castro Henriques Administrador, Parvalorem SA
31 – Ana Sofia Pires Diretora, Ricoh
32 – Gonçalo Solla Diretor, Fundação LIGA
33 – Ricardo Camarinha Diretor, Spekter Technology
34 – Helena Painhas Administradora,
Painhas, S.A.
35 – Manuel Veríssimo da Luz Administrador, Banco BIC Português S.A.
36 – Diogo Coutinho Diretor, Temakeria, Lda
37 – José António Silva Diretor, Seguradoras Unidas S.A.
38 – Gonçalo Santo Diretor, Borealis Infrastructure
39 – Sérgio Vieira
Diretor, 360imprimir
40 – Nuno Filipe Rangel Administrador, Rangel Logistics Solutions (Grupo Rangel)
“Eu estou muito contente. Não quero outra coisa”
Diz que está em modo Cristiano Ronaldo, mas com a angústia da pressão. É assim a vida do vencedor. E está a adorar
Nuno Sebastião vem de origens humildes e não o esconde. Aliás, gosta de o dizer as vezes que forem precisas, porque acredita que isso faz dele um exemplo. “Se eu consegui, outros também vão conseguir. Só é preciso é trabalhar e manter o mesmo nível de determinação sempre, não é estar uns meses cheio de vontade e depois perdê-la”, disse em conversa com o Expresso na Pousada de Lisboa. É por isso que considera esta iniciativa dos 40 líderes com menos de 40 anos tão importante. Aliás, essa é a opinião de todos os que participaram.
“Este prémio mostra que temos uma sociedade aberta como outra qualquer. O meu pai é pedreiro e há 20 anos ter este tipo de reconhecimento não acontecia a alguém com origens tão humildes e isso é muito bom e um sinal muito forte de uma sociedade aberta que valoriza o que tem de melhor, também independentemente da idade. Eu vejo isto acontecer muito nos EUA e é muito porreiro ver isso acontecer aqui também”, disse. Aliás, foi em Silicon Valley, onde trabalha, que percebeu que as origens não têm de ditar o futuro. “Quando cheguei aos EUA, vi malta que eram zé-ninguém mas que trabalharam e, independentemente de onde vinham, da idade ou da raça, chegavam a altos cargos. E dei por mim a pensar que, se eles conseguem, então eu também consigo.”
E conseguiu. A Feedzai foi criada em 2009 e depois de anos a batalhar surgiu, finalmente em 2013, um investidor que injetou dinheiro e a levou para São Francisco, neste caso para Silicon Valley, onde nasceram e estão quase todas as grandes tecnológicas. Hoje fornece sistemas antifraude a cinco dos 25 melhores bancos do mundo — que “no final do ano até já poderão ser 10” — e conta com sete escritórios onde monitoriza cinco mil milhões de transações por dia com a ajuda de uma equipa de 260 pessoas, que deverá “chegar às 310 no final do ano”. Além disso, está a ganhar cada vez mais visibilidade. Steve Wozniack, cofundador da Apple, foi um dos convidados de uma conferência que a Feedzai organizou em Las Vegas, onde esperava 700 pessoas, “mas apareceram 3500”. E, há duas semanas, fecharam acordo para receber um investimento de €42,5 milhões para alargar a sua presença a mais geografias.
Parece um objetivo pequeno para tanto dinheiro e para o potencial que a empresa tem, principalmente nesta nova realidade da digitalização da sociedade e do aumento dos riscos de ciberterrorismo e fraude. Mas Nuno não perde a noção da realidade. “Eu estou a negociar com o segundo e o terceiro melhor banco do mundo. Sou um zé-ninguém ao pé deles. E, para os investidores, nós somos os putos novos. Eles já lá estavam todos e às vezes sabem mais sobre a nossa empresa do que nós próprios”, contou. É por isso que admite que vive com alguma angústia, porque “os investidores esperam mais de nós e porque sabemos que há cada vez mais oportunidades e queremos agarrá-las.”
É a gerir tudo isto, sempre determinado, sempre em movimento, sempre atento e sempre humilde, que Nuno passa os seus dias. “É difícil estar sempre em modo Cristiano Ronaldo”, brinca, mas “eu estou muito contente. Não quero outra coisa”, rematou, com um enorme sorriso.
Textos publicados originalmente no Expresso de 28 de outubro de 2017