Nas duas últimas décadas, duplicaram de cinco para dez os cargos de administração nas empresas americanas, segundo investigadores da Universidade Harvard. No entanto, uma figura tradicional começa a desaparecer – o COO (chief operating officer ou executivo-chefe de operações), braço direito do presidente-executivo. No ano 2000, esta função existia em metade das companhias americanas. Hoje, pode ser encontrado em apenas de 35%. Empresas como a rede de cafetarias Starbucks, a fabricante de cosméticos Avon, a indústria automóvel GM e a farmacêutica Eli Lilly eliminaram esta posição nos últimos anos.
Há duas razões principais para o desaparecimento dos COO. A primeira é justamente a tentativa de reduzir a superpopulação no topo – medida de corte que se torna mais popular em tempos de crise. “Ter um executivo para cuidar do dia a dia enquanto o presidente se dedica à estratégia pode ser um luxo insustentável, quando um ambiente de negócios mais complexo exige a criação de novos cargos”, diz Stephen Miles, presidente da consultora de recursos humanos The Miles Group. Um fator adicional, também comum na turbulência, é o objetivo de manter a operação mais perto do presidente para acelerar as decisões.
O caso da Starbucks retrata exemplarmente o novo contexto. O americano Howard Schultz reassumiu a presidência em janeiro de 2008, depois de uma temporada no conselho – no meio de uma dolorosa reestruturação. Uma das suas primeiras medidas foi acabar com o cargo de COO (nos meses seguintes, demitiu mais de 18 mil funcionários). Em contrapartida, só neste ano três executivos assumiram novos postos reportando diretamente a Howard Schultz – o chief digital officer, para as estratégias digitais; o chief creative officer, para o relacionamento com clientes nas lojas; e o chief community officer, para temas como diversidade e apoio a programas de educação.
Segundo alguns especialistas, a tendência é que o posto fique restrito a determinadas indústrias em que a projeção do futuro é particularmente crítica, como a de tecnologia – e dividir a atenção no dia a dia com outro executivo pode ser crucial. Empresas como Microsoft e HP têm mantido a posição com carácter permanente.
Secar a fonte da sucessão
Alguns críticos veem na extinção deste posto uma ameaça à linha de sucessão. Nos Estados Unidos, os COO representam uma etapa importante na formação dos presidentes – 44% dos que assumiram o comando de empresas em 2011 ocuparam essa posição. Algumas companhias procuram alternativas. “Há a tendência de que outro diretor acumule a função”, diz Julie Wulf, professora de administração da Universidade Harvard. Na empresa de internet AOL, o cargo de COO, eliminado em 2008, ressurgiu este ano – Arthur Minson, diretor financeiro, acumula a função. Pode–se também fazer renascer esta função em momentos de transição, como fez a Intel. O presidente, Paul Otellini, que se deve aposentar em 2016, aos 65 anos, anunciou, em janeiro, o primeiro COO nos seus sete anos na presidência – Brian Krzanich, um potencial sucessor. É uma concessão para evitar algo que a Intel não se pode dar ao luxo de ter – um buraco no comando.
Este artigo é parte integrante da edição 345 da Revista EXAME