“O fim de semana liberal”, como lhe chamou João Cotrim de Figueiredo na abertura dos trabalhos da VI Convenção Nacional da Iniciativa Liberal (IL), deu um novo voto de confiança ao líder do partido e à sua direção – que foram, neste domingo, reeleitos com 94% dos votos dos mais de mil militantes e dirigentes que participaram na reunião magna do partido. Dois dias em que Cotrim de Figueiredo apontou baterias ao governo socialista “desgastado” e “incapaz de ter uma ideia construtiva para o País”. E em que se apresentou como a alternativa, apelando ao voto útil na IL, para conseguir alcançar os objetivos a que se propõem: obter 4,5% dos votos nas eleições legislativas e cinco mandatos. O sonho? Ser Governo. Mas “sem pressas”. “Não trocaremos convicções por cargos” e “não vamos vender a alma ao diabo”, alertou o deputado único liberal, perante o auditório do Centro de Congressos de Lisboa cheio, mas onde, mesmo assim, se sentiram algumas ausências.
Os silêncios
Houve duas cadeiras vazias na convenção que não passaram despercebidas. A de Carlos Guimarães Pinto, um dos fundadores do partido e dos nomes mais apresentados como sendo um possível candidato pelo círculo eleitoral do Porto (embora a IL se tenha recusado a levantar o véu sobre as listas para a Assembleia da República até então). O professor universitário acompanhou os trabalhos, à distância, via zoom, no entanto, não fez qualquer intervenção durante os dois dias.
A outra foi a de Maria Castello-Branco, da Comissão Executiva, que até então era vista como uma das grandes promessas do partido, mas que foi afastada deste órgão, este fim de semana. Em declarações ao Observador, a dirigente liberal mostrou-se compreensiva com a decisão de Cotrim de Figueiredo de não a voltar a chamar para a direção, mas, na reunião magna, Castello-Branco não apareceu (nem via zoom).
A sua saída da Comissão Executiva não foi, no entanto, uma completa surpresa, pois alegadamente Maria Castello-Branco andaria muito desligada do partido nos últimos tempos – desde que foi estudar para Londres, o que coincidiu com o episódio mediático que protagonizou, no último congresso do Movimento Europa e Liberdade (MEL), quando optou por não participar no painel para o qual foi convidada por não querer partilhar o palco com Nuno Afonso, um dos “vices” de Ventura.
As estrelas
João Cotrim de Figueiredo conserva boa imagem internamente e recebeu um aplauso sonoro cada vez que subiu ao palco do Centro de Congressos de Lisboa, ou não teria sido reeleito com 94% dos votos. O líder do partido continua a capitalizar com a presença no Parlamento, pela qual muitos militantes se mostraram agradecidos, durante a convenção. Embora esta reunião tenha também sido uma oportunidade para a oposição interna à direção mostrar as garras, acusando-a de “falta de transparência” e de centralizar todas as decisões do partido, estas vozes foram abafadas pelos apoiantes de Cotrim.
Carla Castro – uma das mulheres de confiança de Cotrim, membro da Comissão Executiva e presença assídua no gabinete do partido na Assembleia da República – também provou ser uma voz influente. Foi a primeira pessoa a levantar o auditório, durante a tomada de posse da atual direção, de que continua a fazer parte. Conseguiu também anular uma das moções propostas sobre “Introduzir a dimensão social no centro do discurso liberal”, assim que subiu ao púlpito para expor que o gabinete parlamentar já dá atenção a estes assuntos.
Mas a receção mais calorosa dos liberais foi para Tiago Mayan Gonçalves, o candidato presidencial do partido nas eleições deste ano, que recebeu uma das primeiras ovações da convenção. Das quatro vezes que subiu ao palco foi sempre recebido com particular entusiasmo pela plateia. Integrará a lista para as legislativas? Foi pergunta à qual ainda não quis responder.
Os insólitos
Negacionista à distância
O militante Joaquim Lourenço usou o seu “minuto liberal” através do zoom, a partir de Lagos, não por ter dificuldades em marcar presença em Lisboa, mas porque se aqui se tivesse dirigido teria ficado à porta do Centro de Congressos de Lisboa, onde era preciso mostrar o certificado digital covid ou um teste negativo realizado nas últimas 48 horas. “Não tenho, nem quero ter”, explicou aos colegas de partido, referindo-se ao certificado, um “massacre a todas as nossas liberdades”.
Joaquim Lourenço não aceitou ser vacinado por medo dos efeitos secundários da vacina contra a Covid-19. “Tenho medo de ser vacinado, porque o meu pai morreu por causa de uma vacina que levou no ultramar e faleceu passados seis ou sete anos”, justificou.
De pequenino…
A Iniciativa Liberal é um partido com muitos jovens e isso também não passou despercebido nesta convenção. Houve quem tivesse confessado o nervosismo por estar, pela primeira vez, a usar da palavra numa reunião magna de um partido e quem tenha admitido ter recebido do filho universitário a ficha de inscrição como prenda no último natal. Nunca se é demasiado novo para ser liberal… é o que parece sugerir a presença constante do bebé de uma militante na sala, que dormiu e comeu enquanto os membros do partido discutiam “o que é isto de ser liberal”.