Foi no Twitter que, a 24 de março, Elon Musk escreveu que considerava que o algoritmo desta rede social deveria ser público (open source). Na mesma publicação, deu oportunidade aos seus seguidores de votarem se concordavam ou não com esta afirmação. Com mais de um milhão de votos, cerca de 82% afirmou que “sim” e apenas 17,3% discordou. Mas o que significa isto para Musk? A necessidade de mais transparência.
Os algoritmos são um conjunto de instruções que sustentam os produtos e serviços do Twitter. Os dados que os compõem são usados para descobrir que tweets as pessoas veem e mostrar tweets de outros utilizadores que o Twitter acha que o utilizador gostaria de ver, com base em diferentes fatores, como as contas com as quais interage ou o quão popular é um tweet.
Um algoritmo ser aberto – como já acontece com algumas partes desta rede social – significa que o código da plataforma está disponível publicamente para que qualquer pessoa possa visualizar, refazer e usar para outros fins. Mas Musk queria, essencialmente, que as regras determinam o que vemos no feed do Twitter fossem públicas.
Na semana passada, o CEO da Tesla e da SpaceX anunciou que se ofereceu para comprar todas as ações do Twitter. Elon Musk garante que o “Twitter precisa de ser transformado” e que investiu “no Twitter por acreditar no potencial que tem enquanto plataforma de liberdade de expressão em todo o mundo”, acrescentando ainda que “a liberdade de expressão é um imperativo social para uma democracia funcional”.
Esta ideia foi novamente reforçada durante uma apresentação da conferência TED em Vancouver. Na palestra, o CEO disse que deveria ficar mais claro para os utilizadores quando é que uma ação, por parte do Twitter, pode afetar o que escrevemos, assim como se processam as decisões para amplificar ou retirar a ênfase dos tweets. Isto porque o Twitter adiciona rótulos aos tweets: por exemplo, se a publicação violar as regras da rede social, mas é mantida disponível por ser considerada “do interesse do público”. Com mais transparência, diz Musk, “não há nenhum tipo de manipulação nos bastidores, seja algorítmica ou manual”.
Mas tornar públicos os algoritmos que moldam o Twitter não torna automaticamente a empresa mais transparente, mesmo que ajude a resolver alguma desconfiança que os críticos têm nas ações de fiscalização de conteúdo. Além disso, mesmo aqueles que conseguem entender o código não percebem necessariamente como funciona.
“Abrir algo por definição significa que se pode ver o código, mas não significa que se entenda as políticas ou influenciar as políticas que levam a esse código”, disse Vladimir Filkov, professor de ciência da computação da Universidade da Califórnia, em Davis, à CNN.
Além disso, se tornar o algortimo aberto significar ter acesso também a tweets privados, libertar esses dados levaria a “maciças implicações negativas de privacidade”, disse Ariel Procaccia, professor de ciência da computação da Universidade de Harvard, ao site de notícias.
Por outro lado, tornar públicos os algoritmos não levaria necessariamente a uma mudança no Twitter. Os utilizadores não poderão fazer nenhuma alteração no código que executa a rede social a menos que o Twitter permita essas mesmas ações. “É claro que os utilizadores poderiam copiar o código e modificá-lo, mas essas mudanças não afetariam os algoritmos implantados no próprio Twitter”, afirma Procaccia. “É altamente improvável que o Twitter considere implantar mudanças feitas por não funcionários”.