Em 2018, vários funcionários que trabalhavam no consulado norte-americano em Guangzhou, na China, foram evacuados para os EUA por suspeita de terem sido alvo de “ataques sónicos.” Este tipo de incidente não era novidade para os americanos: em 2017, deu-se um fenómeno semelhante com funcionários da embaixada dos EUA em Cuba.
Passados mais de dois anos desde estes incidentes misteriosos, a Academia Nacional de Ciências dos EUA publicou um relatório médico sobre os impactos dos alegados ataques nos cérebros dos diplomatas. A equipa, composta por 19 médicos e cientistas, escreveu o relatório a pedido do Departamento de Estado dos EUA. De acordo com as suas conclusões, os danos cerebrais demonstram sinais de uso de energia de micro-ondas direcionada: “parece ser o mecanismo mais plausível para explicar estes casos.”
Apesar desta confirmação, a equipa foi cautelosa ao avaliar a possibilidade de um ataque aos diplomatas americanos – não confirmou que se tratou de uma ação deliberada de um inimigo, mas afirmou que este tipo de atuações pode ser usado com propósitos nefastos: “a mera consideração deste cenário levanta graves preocupações sobre um mundo com atores malévolos e novas armas para causar danos a pessoas – como se o Governo dos EUA não tivesse já ocupado com tantas outras ameaças naturais.”
O caso de Mark Lenzi
Em 2017, Mark Lenzi, um diplomata americano que trabalhava em Guangzhou, na China, começou a sentir sintomas como dores de cabeça, dificuldade a ler, irritabilidade, problemas de memória e insónias. No ano passado, um grupo de médicos realizou uma análise independente ao cérebro do funcionário do consulado.
De acordo com a análise da sua ressonância magnética, vinte regiões do cérebro de Lenzi demonstravam volumes “anormalmente baixos”, incluindo regiões que afetavam a memória, a regulação das emoções e as capacidades motoras – todas elas relacionadas com os sintomas do funcionário, disseram os médicos. De todas as 107 regiões cerebrais que analisaram, também concluíram que três delas demonstravam volumes maiores: se, por um lado, volumes menores significam lesões cerebrais, volumes maiores podem ser um sinal de compensação para outras partes do cérebro diminuídas.
Um ano mais tarde, em 2018, um funcionário da administração americana afirmou que, após investigar os edifícios dos diplomatas americanos na cidade, não foram encontrados quaisquer dispositivos acústicos. Essa conclusão levou à suspeita, por parte dos oficiais de justiça, de que as lesões resultassem de ondas de micro-ondas vindas de localizações próximas e não dos próprios edifícios do governo americano. Apesar de esta ser apenas uma teoria, sem qualquer prova a fundamentá-la, o funcionário americano afirmou que as ressonâncias aos cérebros dos funcionários mostravam mudanças que indicavam a existência de lesões.
Ainda que os alegados ataques tenham acontecido em Cuba e na China, os funcionários da administração americana não excluem a hipótese de envolvimento de um terceiro país, dada a sofisticação dos meios empregues. Em 2017, a Rússia, a Coreia do Norte, a Venezuela e o Irão foram incluídos numa lista de país suspeitos destes ataques.