Os avisos constam do mais recente relatório que a Greenpeace elaborou, depois de conhecer as intenções do governo japonês de libertar aquela água, usada para arrefecer os reatores da antiga central, no oceano. Segundo a organização ambientalista, os 1,23 milhões de água armazenados na fábrica de Fukushima podem conter até 63, 6 gigabequerels, a unidade usada para determinar a atividade de um isótopo radioativo – sendo que um bequerel corresponde a uma desintegração nuclear por segundo.
“Estes, juntamente com outros radionuclídeos existentes na água, continuarão perigosos durante milhares de anos, com o potencial de causar danos no ADN humano”, sublinha Shaun Burnie, autor do documento e principal especialista nuclear do Greenpeace Alemanha, à CNN. Segundo os peritos, este isótopo tem uma meia-vida (conceito que corresponde ao tempo necessário para que metade dos átomos radioativos se degradem) de 5 370 anos. Ora, remata a organização, ao persistir no ambiente durante milhares de anos, acabará por ser incorporado em toda a matéria viva.
O relatório já foi rebatido pela Tokyo Eletric Power (Tepco), a empresa que opera a central. Segundo Ryounosuke Takanori, o porta-voz da Tepco, a concentração do tal carbono-14 está entre os 2 e os 220 becquerels, o que quer dizer que a dose anual de radiação na água ficará entre os 0,001 e 0,11 milisieverts (unidade usada para dar uma avaliação do impacto da radiação ionizante sobre os seres humanos), o que, considerou “não é um nível que afete a saúde”.
Pressão revista e aumentada sobre o destino daquela água
Saber com toda a certeza a quantidade que vai ser libertada no mar é a grande questão, desde que a decisão foi conhecida e anunciada, repetidamente, anos últimos anos . De todas as vezes, a Tepco fez saber que dificilmente terá condições para continuar a acumular os milhões de toneladas de água contaminada recolhidos regularmente na central nuclear de Fukushima, desde o desastre de 2011. Há um ano, Yoshiaki Harada, ministro do Ambiente e ministro de Estado para as Emergências Nucleares do Japão, assumiu que “provavelmente, a solução era escoá-la para o mar e diluí-la.”
Fukushima é uma cidade japonesa (situada a 250 quilómetros da capital do país, Tóquio), que há quase dez anos se tornou mundialmente conhecida pelos piores motivos. A 11 de março de 2011, um terramoto de magnitude 9 atingiu aquela zona do Japão, provocando um maremoto de 15 metros e um desastre de dimensões tremendas na central de energia nuclear da localidade. Seria o pior acidente nuclear desde Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Em concreto, o desastre danificou três reatores e a solução encontrada para que não derretessem foi usar continuadamente água em tubos de arrefecimento. Dado que ficava contaminada, depois do seu uso, passaria a ser armazenada em reservatórios. A questão é que, a cada dia que passa, são armazenadas mais de 170 toneladas de água contaminada. Com a lotação de espaço quase esgotada – e a estimativa de que, em dois anos, os tanques disponíveis estarão mesmo totalmente cheios –, a pressão em torno do destino desta água tem vindo a aumentar.
Debaixo dos protestos de ambientalistas, e também dos pescadores no local, o governo do Japão alega que a decisão se baseia na opinião dos cientistas consultados – e que estes garantiram que o risco da opção é muito baixo. Segundo a informação disponibilizada pelos jornais japoneses, como o Yomiuri Shimbun, o processo inclui a diluição da água dentro da fábrica antes da sua libertação para o mar para reduzir a radioatividade. E a descarga, que deverá começar em 2022, vai ser gradual, prolongando-se durante 30 anos, de forma a permitir uma libertação controlada.