Na região de Ílhavo, em meados do séc. XX, não havia festa ou feira que dispensasse a presença dos Dom Robertos, anunciada pelo toque da palheta. Por detrás de barracas de pano, surgiam as figuras de traços grosseiros e vozes agudas, a espantar miúdos e graúdos e a despertar gargalhadas com as suas histórias populares, a sua linguagem crua e as suas reações primárias.
É ao som do tradicional instrumento que se procura manter viva a história dos tradicionais fantoches de luva. Em 2013, nascia a Mostra de Robertos e Marionetas, tendo como ponto de partida a obra de Armando Soares Ferraz (1923-1997), natural da Gafanha da Nazaré, um dos últimos fantocheiros e bonecreiros portugueses, criador de personagens (do Padre ao Diabo, do Touro ao Toureiro) que ainda hoje pertencem ao imaginário coletivo. Entretanto, há três anos, foi rebatizada com o nome Palheta, mas o propósito de prolongar a presença dos robertos e das marionetas na cidade permaneceu, seja com espetáculos ou formações.
O sucesso de anteriores edições fez com que, este ano, a programação crescesse e se alastrasse a vários pontos (escolas, juntas de freguesias, mercados, jardins…) mas tendo como quartel-general a Fábrica Ideias Gafanha da Nazaré. O denominador comum de todas as atividades será “a questão ecológica e a relação com a reutilização dos materiais e a limpeza dos oceanos”, explicou à LUSA Luís Ferreira, programador do 23 Milhas, projeto do município de Ílhavo responsável pela organização do festival. “Isso está inerente a vários conteúdos, das peças mais infanto-juvenis a uma oficina de marionetas feitas com material reutilizado e faz parte da raiz do espetáculo de rua, em que as marionetas, pequenos adereços e figurinos vão ser feitos com material reutilizado e algum dele recolhido até nas praias”. Trata-se de Marés, uma criação do Teatro e Marionetas de Mandrágora, agendado para este sábado e domingo, dias 6 e 7, às 15h30, que contou com 100 participantes da comunidade local, assumindo vários papéis, desde a manipulação de objetos à criação dos figurinos.
A Mandrágora é também responsável por um dos novos espetáculos de Teatro Dom Roberto apresentados no Palheta, uma criação de Filipa Mesquita a partir das histórias tradicionais dos fantoches, recolhidas junto de vários bonecreiros. Outro coube à S.A. Marionetas – Teatro e Bonecos, desta vez inspirado no trabalho do mestre António Dias. Mas no festival cabem igualmente produções fora da caixa, como Anywhere, da companhia francesa Le Théâtre de L’Entrouvert (dia 5, sexta, às 21h30), com as marionetas feitas de gelo, W, um concerto encenado que inclui uma original orquestra robótica e projeção de vídeo, a cargo da Sonoscopia e do Teatro de Ferro (dia 6, sábado, às 22h), ou o concerto da banda Paus em parceria criativa com a plataforma artística Pia (dia 7, domingo, às 21h30). Serão ainda promovidos percursos poéticos e literários pelo comércio tradicional, idealizados por Marina Palácio, a convidar o público a descobrir a poesia escondida em alguns estabelecimentos da Gafanha da Nazaré, com a ajuda preciosa dos lojistas.
Nesta quinta, sexta (com exceção do espetáculo Anywhere) e segunda, dias 4, 5 e 8, o programa é dirigido a escolas e grupos organizados. No fim de semana, todos são bem-vindos. Em especial, as famílias.
Palheta > Fábrica Ideias Gafanha da Nazaré > R. Prior Guerra, Gafanha da Nazaré > T. 234 397 263 > 4-8 abr > espetáculos €3 a €10