No livro A Queda do Céu, o grande xamã Davi Kopenawa, porta-voz dos Yanomami, a tribo indígena brasileira, narra ao etnólogo Bruce Albert os avanços do homem branco sobre a floresta Amazónica, deixando um rasto de violência e de destruição, e manifesta-se pela salvação do planeta. Na sua descrição do mito do fim do mundo, fala sobre como, rompida a harmonia da vida no Universo, o céu – que os Yanomami entendem como “aquilo que está acima de nós” – desaba sobre todos os povos que estão abaixo. Lia Rodrigues responde a esta antiga profecia, que abarca uma ameaça muito presente, de assustadoras mudanças climáticas, procurando formas de contrariar este destino trágico. Afinal, o que podemos fazer para segurar o céu?
Em cena, os bailarinos da Lia Rodrigues Companhia de Dança, criada em 1990, dançam pela sobrevivência, movendo -se em grupo ou isoladamente, como se de um ritual se tratasse. Os corpos nus vão-se cobrindo, primeiro, com um pó castanho, depois branco e amarelo. De rostos inexpressivos, sob uma luz ténue, os bailarinos confrontam-se com o público ao seu redor, empurrando-o ou guiando-o de acordo com as forças do momento. Neste mundo de pernas para o ar, é a força do coletivo que afasta os maus agoiros.
Lia Rodrigues é uma das grandes referências da dança contemporânea brasileira. Em 2004, instalou o seu grupo na favela da Maré, no Rio de Janeiro, e desenvolveu um conjunto de ações artísticas e pedagógicas junto daquela comunidade. Ali nasceu, em 2009, o Centro de Artes da Maré, idealizado para formação, criação e difusão das artes, uma “utopia urbana” que continua a influenciar e a inspirar a obra da coreógrafa, marcadamente política. Sempre a imaginar novas formas de agir… para que o céu não desabe nunca.
Para Que o Céu Não Caia > Culturgest > R. Arco do Cego 50, Lisboa > T. 21 790 5155 > 13-15 dez, qua-sex 21h30 > €15, €5